Uma oportunidade de colocar em evidência o valor e
a beleza do maior dom recebido de Deus: a vida. Diante de fatos que
atentam contra a dignidade da pessoa humana, a Semana Nacional da Vida –
que este ano será realizada de primeiro a sete de outubro - se destaca
como uma maneira de reafirmar a importância inalienável e inegociável da
vida em qualquer instância. A Semana retoma as situações de ameaça à
vida e se insere na missão da Igreja de estar a serviço do bem-estar
pleno de todos.
A discussão acerca de uma mudança de época, onde a definição da
concepção integral do ser humano é dissolvida perpassa os dias de hoje.
Em entrevista ao Portal da Arquidiocese, o Bispo Auxiliar e presidente
da Comissão Arquidiocesana de Promoção e Defesa da Vida, Dom Antonio
Augusto Dias Duarte lembrou que o Documento de Aparecida chamava a
atenção para o individualismo, prática nociva à valorização do outro.
Segundo o bispo, um aspecto importante que ainda falta à consciência da
população, quando se trata da promoção da vida, é o próprio respeito à
pessoa humana.
- Quando não se valoriza a pessoa, a vida passa a ser simplesmente um
fenômeno biológico, social, e, ao apagar o valor da pessoa, você também
apaga o valor da vida. Este Documento de Aparecida lembrava um pouco
deste malefício, desta mudança de conceito da pessoa humana, que é
justamente o individualismo. Ali, há uma frase que é realmente
impressionante e arrepiante, porque fala que o individualismo não é
apenas a indiferença com o outro, mas é um sinal de que o outro
praticamente não existe. Não é apenas uma indiferença, mas um desprezo
do outro. E nós observamos, hoje em dia, esse desprezo da pessoa
enquanto pessoa. Não se trata de, na Semana Nacional da Vida, apenas
fazermos campanhas contra os atentados que se fazem contra a vida
humana, não é apenas apontarmos as origens e as causas da cultura de
morte, mas sim realmente fazer com que a pessoa humana, em todas as suas
etapas da vida, seja valorizada enquanto pessoa. Esta é a maneira de
tirar do mundo este individualismo indiferente e depreciativo do ser
humano, opinou.
Instituída, em 2005, pela 43ª Assembleia Geral da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), a Semana da Vida acontece anualmente. Neste
ano, o tema é “Vida, saúde e dignidade: direito e responsabilidade de
todos”, relacionando-se com a Campanha da Fraternidade 2012, que aborda a
Fraternidade e a saúde pública. Ao comparar os dois temas, Dom Antonio
destacou a necessidade de entender a “saúde” de uma maneira mais ampla,
abrangendo não somente o aspecto médico, mas sim o bem-estar integral do
ser humano — principal preocupação da Semana Nacional da Vida.
- Devemos pontualizar bem o que queremos dizer com saúde. (...) Saúde,
no fundo, é o bem-estar integral da pessoa humana, e se esse bem-estar é
procurado e é propagado, ai temos a saúde pública. E a saúde pública
não se trata apenas de combater as doenças existentes de uma forma
epidêmica ou endêmica na sociedade, mas se trata de fazer com que as
pessoas se relacionem de uma maneira saudável. Então, eu penso que essa
Semana Nacional da vida, com esse titulo: “vida, saúde e dignidade”,
deve ser desenvolvida primeiro, a conceituar e valorizar realmente quem é
a pessoa humana e, em segundo lugar, não apenas reivindicar políticas
de saúde pública(...), mas, mais uma vez, fazer as pessoas agirem no
sentido de darem condições sociais para que possamos ter esse bem
integral, disse.
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A Semana termina com o 'Dia do Nascituro', comemorado em 8 de outubro,
para homenagear o novo ser humano, a nova vida que, desde a sua
concepção, está dentro do útero materno. Nesta mesma ocasião, quem olhar
para o alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, à noite, verá o Cristo
Redentor, maior cartão-postal da cidade, iluminado de amarelo, em
atenção à data. Segundo Dom Antonio, este é o momento em que o Cristo -
definido como “a Luz do mundo” - através de sua iluminação peculiar,
chamará a atenção e convidará a todos para também serem essa luz e
aderirem às causas da Semana da Vida.
- Quando se fala que Cristo se define como a Luz do mundo, aí temos uma
afirmação de que ele nos faz pensar que se o Cristo está iluminado,
neste caso para a Semana da Vida, é para despertar em nós uma maior
consciência, uma maior participação em defesa da vida. Não podemos
esquecer que Ele não só se define como “a Luz do mundo”, como ele fala:
“Nós somos a luz do mundo”. Então, temos que ser a luz da verdade! Não
basta iluminar o Cristo, é preciso que saibamos qual o sentido daquela
mudança de cor, e, quando se refere ao Dia do Nascituro, temos que saber
que ali estamos sendo chamados para iluminar a consciência das pessoas
com a valorização da pessoa humana, com o valor do bem-estar integral da
pessoa humana. E depois também, se Cristo afirma “eu sou a Luz do
mundo” e se essa Luz é a verdade, devemos nos comprometer mais com a
difusão da verdade sobre essas realidades que eu citava, ponderou.
Projeto Raquel: pelo apoio às mães que sofreram aborto
Temeroso ao saber do nascimento de Jesus Cristo, Herodes mandou matar
todas as crianças com menos de dois anos. Este episódio remete à Raquel,
mulher do Antigo Testamento, que chorou inconsolável pela morte de seus
filhos.
“Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: Ouviu-se um
clamor em Ramá, Choro e grande lamento; Era Raquel chorando a seus
filhos, E não querendo ser consolada, porque eles já não existem.” (Mt
2: 16-17)
Assim como Raquel, muitas outras mulheres convivem com a angústia e a
tristeza da perda de um filho. No caso do Projeto Raquel, a morte da
criança é causada pelo aborto.
- Esta participação das mulheres na morte dos filhos que levam dentro do
seu corpo, através do aborto, faz com que elas chorem como Raquel. Ou
seja, que elas sofram as conseqüências do aborto. Se até o aborto
espontâneo traz um sofrimento à mulher, devemos considerar também o que é
gravíssimo para a mulher, que é o aborto procurado. Esta mulher precisa
de ajuda, afirmou Dom Antonio.
Com foco nessas mulheres que sofrem após algum tipo de aborto, o Projeto
Raquel caracteriza-se como um serviço pastoral pós-aborto, que nasceu
nos Estados Unidos em 1984 e que se espalhou rapidamente pelas dioceses
de vários países. O projeto é uma rede de cura, baseada na misericórdia
de Deus, que oferece a essas mulheres todo o apoio espiritual e
psicológico necessário para cada caso. No Rio de Janeiro, a Arquidiocese
oferecerá um curso, no dia 20 de outubro, para leigos, membros das
pastorais da saúde e familiar, religiosos (as) e sacerdotes, afim de
capacitá-los para atuar no Projeto na cidade.
Para a maioria das mulheres, as consequências do aborto não têm a ver
com patologia física, mas com angústia e culpa. Dom Antonio recordou o
beato João Paulo II em sua Encíclica Evangelho da Vida, na qual o então
Papa fala sobre as mulheres que sofreram aborto:
- O Papa João Paulo II, na Encíclica Evangelho da Vida, mostrava toda a
misericórdia da Igreja, e o sinal da misericórdia de Deus, ao falar que
estas mulheres são menos culpadas que os homens, menos culpadas que a
sociedade — que não dá as condições para que elas sejam, de fato, mães—,
menos culpadas que os legisladores — que procuram servir não ao povo,
mas usam do povo para introduzir uma cultura de morte. Então, o Papa
coloca essas mulheres tendo essa devida posição em termos de culpa, mas
lembrando que qualquer culpa não deve ser simplesmente sentida. Essa
culpa deve ser perdoada, deve ser aliviada e, por isso, existe o projeto
Raquel, esclareceu.( Arquidiocese do Rio de Janeiro ) |