A paz e unidade das
religiões
“O mundo não
terá paz enquanto as religiões não dialogarem e isso não ocorrerá se as Igrejas
cristãs não se unirem”. Essa afirmação do teólogo suíço Hans Kung deve ser
lembrada por ocasião da Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos que ocorre
cada ano e dessa vez será celebrada nessa semana de 12 a 19 de maio. O costume
de consagrar uma semana anual para orar e trabalhar pela unidade das Igrejas já
dura de cem anos. Entretanto é difícil avaliar o resultado dessa prática
ecumênica. Como a unidade é dom de Deus e cremos que a oração é sempre de
alguma forma escutada, orar juntos é sempre bom e fecundo. O risco é que
algumas Igrejas nomeiem uma comissão ecumênica, encarreguem seus membros de
participarem das relações ecumênicas em nome da Igreja e depois disso se
desinteressem pelo assunto. Nesse caso, as reuniões, fóruns e orações em comum
envolveriam sempre os mesmos e poucos personagens. Estes, ao cumprirem as
atividades ecumênicas acabam legitimando suas Igrejas a não mudar nada. As
comunidades concretas e paróquias continuam como sempre foram. Ignoram e até
desprezam as outras Igrejas e religiões.
Para evitar
esse risco, em 1968, a coordenação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
católicos do Brasil) publicou um documento preparatório ao diretório ecumênico.
Ali os bispos ensinavam que a pastoral ecumênica e a abertura para outras
Igrejas só acontecem se se basearem em uma “ecumenicidade” de toda a pastoral e
atividades eclesiais. Ou a Igreja inteira se compromete nesse caminho ou a
pastoral ecumênica terá sempre poucos resultados positivos.
Nesse ano de
2013, o tema proposto para a semana da unidade é a palavra bíblica do profeta
Miquéias: “O que Deus exige de nós?”. O próprio texto responde: “ Deus pede que
pratiquemos a justiça e a bondade e vivamos com simplicidade” (Mq 6, 6- 8).
Infelizmente,
no mundo atual, um dos fenômenos religioso que mais crescem é o fundamentalismo
dogmático e moral. Em nome de Deus, essa corrente religiosa prega a
intolerância e a discriminação de grupos e pessoas. Hoje, no Brasil, cada vez
mais aumenta o número de deputados e políticos ligados a esses grupos
impropriamente chamados de “evangélicos”. Dominam a Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados e impõem a toda a sociedade seus preconceitos
moralistas, afirmados em nome da Bíblia e de um Deus bem diferente do Pai de
amor maternal, revelado por Jesus e acreditado por muitas tradições
espirituais.
Nas Igrejas
mais antigas, (como a Católica, Anglicana e Luterana), essa semana de orações
pela unidade dos cristãos prepara a festa de Pentecostes que encerra o tempo
pascal e celebra que o Espírito de Deus é dado a todo o universo, aceita todas
as culturas e se manifesta em todo gesto e ato de amor. É esse espírito de abertura
universal que a semana de oração pela unidade e os fóruns de diálogo
inter-religioso praticam. Essas atividades de diálogo entre Igrejas e religiões
podem sim ajudar a nossa sociedade a não afundar em projetos autoritários e
fanáticos que oprimem e discriminam grupos e pessoas, em nome da fé. Paulo
escreveu: “Foi para que sejamos livres que Cristo nos libertou. Permaneçam na
liberdade” (Gl 5, 1). “Onde houver liberdade, aí está o Espírito de Deus” (2
Cor 3, 17). (Fonte: Marcelo Barros)