Cardeal Odilo Pedro Scherer
Tivemos um ano intenso marcado, durante o
primeiro semestre, pelo Ano Sacerdotal e, ao longo de todo o ano, pelo
1º Congresso Arquidiocesano de Leigos; este vai chegando à sua conclusão
no Domingo de Cristo Rei. Tenho muita esperança nos frutos que o
Congresso vai trazer, a partir dos propósitos e projetos que os leigos
estão elaborando sobre sua organização, formação e ação e vão apresentar
no encerramento.
Mas também já é tempo de olhar para o
próximo ano e de planejar as ações para levar adiante as questões postas
no 10º Plano de Pastoral, inspirado na Conferência de Aparecida.
Precisamos e queremos ser uma Igreja verdadeiramente discípula e
missionária na grande cidade de São Paulo. E isso requer uma “conversão
pastoral e missionária” das pessoas e também das instituições e
organizações pastorais da nossa Igreja, para passar da pastoral mera
conservação para uma nova visão e atitude pastoral, que integre uma
profunda preocupação e impulso missionário.
Feitas as necessárias ponderações na
assembléia arquidiocesana de pastoral (30/10) e no Conselho
Arquidiocesano de Pastoral (4/11), ficou claro que, no próximo ano, o
destaque pastoral deverá ser a “conversão missionária das nossas
organizações e estruturas pastorais”, em particular, da paróquia com
tudo o que ela significa, para que ela se torne mais e mais “comunidade
de comunidades, grupos, associações, movimentos e organizações de
discípulos missionários”, que nela vivem e se expressam e agem de vários
modos, segundo a riqueza dos dons de Deus e da vida no Evangelho.
Para começar, é necessário que tomemos
uma nova consciência sobre a realidade da paróquia, no sentido teológico
e pastoral, superando uma visão apenas burocrática ou jurídica. Ela é o
rosto mais visível e concreto do Mistério da Igreja, “sacramento de
salvação” no meio do mundo; é uma comunidade de batizados, congregados
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, vivendo a fé, a esperança e
a caridade; ela se reúne em torno de Jesus Cristo, Senhor e Pastor da
Igreja, representado visivelmente pelo Ministro ordenado, que está no
meio dela e à sua frente para servi-la na caridade. A assembléia
eucarística é a expressão mais visível e sacramental da Igreja.
A paróquia é, portanto, “casa de Deus”
no meio das casas dos homens, templo de Deus edificado por pedras vivas,
que são todos os batizados; é o “corpo de Cristo”, através do qual Ele
continua a se expressar, a ir ao encontro das pessoas e a realizar sua
tríplice missão entre os homens; é o concreto e visível “povo de Deus”,
que irradia no mundo a luz de Cristo, difunde o sal e o fermento
benéfico do Evangelho e vai fazendo aparecer os sinais de que o Reino de
Deus anunciado já está no meio de nós. Na paróquia, a Igreja inteira se
expressa e realiza a missão recebida de Cristo: a) anunciar e acolher a
Palavra de Deus; b) testemunhar a vida nova recebida no Batismo,
buscando e expressando a santidade de vida; c) organizar e realizar a
caridade pastoral, em nome de Jesus, Bom Pastor, e a seu exemplo.
Muitas poderiam ser as definições da
paróquia; cabe-lhe bem o conceito de “comunidade missionária dos fiéis
em Cristo” no meio do mundo. Ela é comunidade de comunidades, pessoas,
grupos, organizações e instituições, que estão a serviço da missão
recebida de Cristo; esta mesma missão se expressa na diocese, confiada
ao bispo, sucessor dos Apóstolos, e na sua universalidade da Igreja,
confiada ao pastoreio do Sucessor de Pedro, comunidade de comunidades de
discípulos missionários de Jesus Cristo no meio do mundo.
A paróquia é o ícone visível daquilo que
a Igreja de Jesus Cristo é na sua totalidade. Evidentemente, nenhuma
paróquia se basta a si mesma, nem realiza sozinha e autonomamente a sua
missão, mas o faz na comunhão da Igreja particular (a diocese) e da
comunhão universal da Igreja. Contudo, a paróquia é a Igreja “na base”;
se ali a vida e a missão da Igreja acontecem, também na grande
Comunidade eclesial elas acontecem; do contrário, a Igreja corre o risco
de “rodar no vazio” e de se reduzir a uma série de instituições, sem
chegar ao povo e às pessoas concretas. Continuaremos a refletir sobre
este tema.
FONTE: CNBB