Introdução
Estejamos atentos para o que
significa o Batismo do Senhor. Lucas é claro ao relatar o trecho de hoje,
mostrando quem é Jesus e o que ele fez; quem são os seus seguidores e o que
devem realizar no coração do mundo.
Por conseguinte, não basta
termos recebido o batismo. Aliás, Deus que me perdoe, mas quantos que foram
batizados, sem que demonstrem compromisso com a fé e a vida, na relação com
Deus, com a Igreja, com o próximo.
I Leitura
(Is 42,1-4.6-7)
Na segunda parte do Livro de
Isaías, o próprio Deus faz uma apresentação do seu servo e sua missão. E sua
missão é implantar o direito, segundo a vontade de Deus. Com um detalhe, a
realização dessa missão, não ocorrerá com as armas e as forças próprias dos
poderosos e malvados, mas com as condições da misericórdia, da mansidão e da
justiça. Assim, sim, os fracos poderão contar com um Deus que é realmente
parceiro.
E
um detalhe: os primeiros cristãos logo reconheceram neste “Servo do Senhor” a
pessoa de Jesus, o Filho de Deus.
E quando se dá essa
identificação? Tudo se torna claro naquela tarde em que Jesus é condenado. A
comunidade encontra no Livro do Profeta Isaías, a história deste “Servo” que,
depois de um processo tirânico, é eliminado.
É bem verdade, que não se sabe,
de forma concreta, a quem o profeta Isaías se refere quando trata sobre o
“Servo do Senhor”, entretanto, é possível afirmar com segurança, que Jesus
realizou tudo aquilo que está escrito no Livro de Isaías sobre esse “Servo”
fiel a Deus.
Atenção: Temos aqui descrito a vocação, o dom do Espírito e a missão do “Servo do Senhor”. Que tal, após
termos ouvido este relato, examinarmos melhor a nossa missão como filhos de
Deus?
Ó Deus, sabemos que, quem
procura viver verdadeiramente o Evangelho, corre o rico de dissabores,
ajuda-nos, porém, a que nada nos tire do sério na hora de termos que viver a
fé, a esperança e o amor do jeito que o teu Filho viveu.
Evangelho
(Lc 3,15-16.21-22)
O
trecho do Evangelho de hoje está subdividido em duas seções:
A primeira seção (vv. 15-16).
Aqui, de início, Lucas começa dizendo: “Visto que o povo estava na
expectativa...”. É, portanto, uma constatação muito carregada de preocupações.
Mas quais são essas preocupações? As
carências e suas consequências eram preocupantes. Por exemplo: O escravo
esperava a sua liberdade; o pobre, condições de vida mais digna; o doente, a
cura; a mulher violentada, a recuperação da sua dignidade, e tantas outras
situações que poderiam ser descritas. Além do mais, o aspecto religioso não
incutia alegria, mas sim perturbação, medo, angústia: alguma coisa deveria
mudar! Eis aqui os motivos pelos quais, João Batista advertia às pessoas o
processo da conversão.
Pois bem, naquele tempo a
realidade era assim. Hoje, não é diferente, o povo “está na expectativa e se
pergunta dentro de seu coração”: quando é que as coisas vão mudar? Temos razão
quando falamos dos desvios morais e éticos relacionados aos políticos e outras
lideranças, relacionados com a vida das pessoas, causando-lhes a violação de
sua dignidade. É verdade! Porém, também é verdade, a nossa indiferença ética e
moral diante dos apelos dos pobres, nossos irmãos, portanto, filhos do mesmo
Deus, será revista pela justiça divina. “O verdadeiro cristianismo rejeita a
ideia de que uns nascem pobres e outros na riqueza, e que os pobres devem
retribuir a sua pobreza à vontade de Deus” (Dom Helder).
Pois bem, é preciso dizer aqui que, o povo também
vive momentos de esperança. Espera, sonha e se pergunta: Não seria João Batista
esse Messias?
João Batista vive as esperanças
e as expectativas da comunidade. E, em vez de usurpar o lugar do Messias que
está para chegar, ajuda a esse mesmo povo a não desanimar. O precursor
reconhece seu papel e lugar: “Eu não sou digno de desamarrar-lhes as sandálias”
(v. 16b). Parabéns, João, você entendeu bem que, sua missão é a de apresentar
que Jesus é a realização das esperanças do povo, aquele que Deus ungiu como
Messias, e não de se revestir de um messianismo alheio, ofuscando a missão do
Filho de Deus, como tentam, equivocadamente, alguns e algumas.
Segunda seção (vv. 21-22).
Lucas apresenta Jesus sendo
batizado junto com o povo. Esse é um detalhe que prova a atitude solidária da parte
de Jesus em relação com a humanidade.
O Evangelho afirma que, enquanto
Jesus rezava, o Espírito Santo desceu sobre Ele. Um detalhe: Com isso
aprendemos que, para o evangelista Lucas, o dom do Espírito Santo é a resposta
de Deus à oração da humanidade (cf. 11,13: “O Pai dará o Espírito Santo àqueles
que o pedirem” (cf. também At 1,12-15).
Lucas afirma que, enquanto Jesus
rezava, o céu se abriu. Vemos, nesse sinal, a resposta de Deus à esperança do
povo. Também em Isaías 63,19, o povo pede a Deus, assim: “Oxalá rasgasses o céu
para descer! Diante de Ti as montanhas se derreteriam!”. Pois bem, com Jesus, a
esperança orante do povo tem sua resposta definitiva.
E para concluir, é válido
salientar que, o centro do Evangelho está no v. 22, ou seja, na descida do
Espírito Santo sobre Jesus e na proclamação feita pelo Eterno Pai: “Tu és o meu
Filho amado, em ti encontro a minha complacência” (v. 22b). Ele vai implantar o
direito na terra (cf. Is. 42,1.4).
II Leitura
(At 10,34-38)
Como é conhecido por muitos,
ambos os escritos (o Evangelho e os Atos dos Apóstolos), são de autoria de S.
Lucas. No Evangelho, relatou o trajeto de Jesus; enquanto que nos Atos,
apresenta o caminho das comunidades que buscavam atualizar as palavras e ações
do Mestre em outros tempos e lugares.
A
leitura traz o discurso de Pedro na casa de Cornélio, em Cesaréia. Havia um
problema na Igreja primitiva que dividia a comunidade: deveriam ou não os
pagãos ser admitidos ao batismo?
Pedro,
no início era contrário; mas depois, porém, disponibilizado ao Espírito, mudou
de opinião, entendendo que o Senhor não faz acepção de pessoas. Essa questão de
homens puros e impuros, para ele não isso não existe. Todos aqueles que
acreditam em Deus e praticam a caridade, pertençam eles a qualquer povo, são
aceitos por ele (vv. 34-36).
Sem
pretender sair do rumo dado por Lucas, gostaria de abrir um parêntese, acenando
para Pedro, por causa da sua mentalidade. Cristo, ao escolher Simão para ser
pedra (a pedra sobre a qual erguia sua Igreja) sabia, de sobra, que o Apóstolo
era precipitado e irrefletido. Sabia que esta fraqueza se manteria até a
negação... E o escolheu. A meu ver, por dois motivos principais: irrefletido,
impulsivo, arrebatado, mas nada morno, nada convencional, nada calculista e
frio... Amava! E como!
Pe. Francisco
de Assis Inácio
Pároco da Imaculada
Conceição
NOVA CRUZ - RN
Fonte: Pascom Nova Cruz