sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Padre comenta ações e dificuldades da iniciação à vida cristã

Jéssica Marçal
Da Redação


Fonte: Canção Nova
'Nós, como Igreja, nunca teremos condições de iniciar adequadamente ninguém na fé se nós não contarmos com a família', diz padre Fábio
A Igreja no Brasil está preocupada com a iniciação dos fiéis à vida cristã. Essa é uma das cinco urgências da ação evangelizadora no país, traçadas nas diretrizes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

O documento que contém essas diretrizes da CNBB lembra, citando o documento de Aparecida, que "a iniciação cristã não se esgota na preparação aos sacramentos do Batismo, Crisma e Eucaristia. Ela se refere à adesão a Jesus Cristo. Esta adesão deve ser feita pela primeira vez, mas refeita, fortalecida e ratificada tantas vezes quantas o cotidiano exigir".

O assessor da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da diocese de Taubaté (SP), padre Fábio dos Santos Modesto, destacou que a família tem papel fundamental nessa iniciação cristã, uma vez que é a "Igreja doméstica", como dizia o Papa, hoje beato, João Paulo II. Mas no contexto social de hoje, padre Fábio lembrou que a família tem terceirizado quase tudo com relação à educação dos filhos e isso tem acontecido também com a fé.

"Nós, como Igreja, nunca teremos condições de iniciar adequadamente ninguém na fé se nós não contarmos com a família. Sem essa estrutura familiar e sem a preocupação da família com que seus filhos tenham fé, conheçam o conteúdo da fé, nós, enquanto Igreja, vamos continuar oferecendo simplesmente alguma pedagogia, instrução religiosa, mas iniciação à fé vai ser um trabalho bem insipiente".

Mas se existe uma verdadeira família por trás do cristão, padre Fábio explicou que o papel da Igreja fica bem mais fácil, uma vez que terá, simplesmente, que utilizar métodos para organizar os conteúdos de fé.

O padre lembrou que, ao instituir o Ano da Fé, o Papa Bento XVI propõe que aconteça uma redescoberta da fé em seus conteúdos. Padre Fábio afirmou que hoje muitos católicos estão mal acostumados a pensarem que ter fé é ter um sentimento, uma comoção que o faz acreditar em alguma coisa, mas a fé da Igreja não é acreditar em qualquer coisa.

"A fé da Igreja tem conteúdo, então são esses conteúdos da fé que a Igreja vai organizar no trabalho catequético, sem nunca esquecer a mistagogia, porque nós precisamos continuar rezando, sentindo e nos comovendo, mas se as pessoas vêm até nós já tendo base, é muito mais simples”.

Porém, a mistagogia, ou seja, espiritualidade na catequese, conforme pontuou o sacerdote, não exclui a preocupação com os métodos, com as dinâmicas, principalmente tendo em vista a necessidade de uma linguagem renovada na Igreja. "É lógico que nós pedimos que os catequistas estejam antenados com a realidade, o Concílio Vaticano II nos diz que a nossa obrigação é sermos dóceis aos sinais dos tempos”.

Dificuldades

A linguagem já constitui uma das dificuldades encontradas para catequizar crianças e jovens hoje. Mas quanto a isso, o padre lembrou a postura do próprio Papa Bento XVI, que apesar de sua idade tem muita preocupação com os jovens, com a linguagem deles, em falar com eles. Um exemplo disso foi o lançamento do YouCat, que é o Catecismo da Igreja Católica direcionado especificamente para os jovens.

Além da linguagem, padre Fábio citou como dificuldades a conjuntura familiar e social, o desinteresse do jovem pela Igreja e a diferença de mentalidade, o paradigma no qual os jovens estão inseridos.

Ele lembrou que a Igreja fala de e instrui para valores perenes, mas a sociedade insiste naquilo que é mais volátil, de forma que esses chamados “contra-valores” da sociedade parecem ser mais interessantes a essa fase do ser humano, que é a infância, a juventude.

“Nós temos uma grande dificuldade de falar de perenidade, de moral, de ética. Então os desafios são imensos e variados, mas não significa que seja impossível”, finalizou.

O EVANGELHO É A BOA NOVA

Jesus é a boa notícia para os mais pobres. Era grande a multidão que se aproximava dele porque sabia em quem confiava. Ele transmitia a verdadeira confiança e sempre estendeu as mãos para os mais pobres. A multidão em torno de Jesus é o reconhecimento da verdade, justiça e amor. 
Uma pessoa que contraía a lepra era totalmente excluída da sociedade. Ninguém chegava perto. Porém, Jesus vai ao encontro dos mais necessitados para salvá-los e introduzí-los na vida da comunidade. "Vai, porém, mostra-te ao sacerdote, e oferece por tua purificação conforme prescreveu Moisés, para que lhe sirva de prova"(Lc 5,14). 
Quem são os mais necessitados, os doentes de nossa comunidade? Que podemos fazer para acolhê-los na comunidade? Essa é a proposta do Evangelho.
"O Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo" (Catecismo Jovem)

EDUCAÇÃO CRISTÃ

Como deve ser a educação cristã?
"A educação cristã deve ser integral, quer dizer, deve compreender a totalidade dos deveres. Deve-se, pois, fazer nascer e fortificar nos cristãos, a consciência de terem de exercer cristãmente as atividades de natureza econômica e social"(Mater et Magistra).


Basta fazer despertar e formar a consciência da obrigação de proceder cristãmente no campo econômico e social?
"A educação deve pretender, também, ensinar o método que torne possível o cumprimento dessa obrigação"(Mater et Magistra).

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Reflexão com Padre Paulo Henrique

1
Naquele Menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer, não somente a face de Deus, mas a verdadeira face do ser humano. 
PARCERIA FAMÍLIA-ESCOLA: A IMPORTÂNCIA DOS LIMITES E DA EDUCAÇÃO EM VALORES



Juntar as competências da família e da escola faz com que crianças e jovens se desenvolvam bem. Mais do que as cobranças e as críticas que as famílias fazem das escolas e vice-versa, é importante fazer essa integração da equipe escolar com a “equipe familiar” para que os pequenos momentos do cotidiano possam ser aproveitados para a prática da educação em valores fundamentais (respeito, gentileza, solidariedade, cooperação, entre outros) e para a colocação dos limites indispensáveis para encarar os desafios do desenvolvimento.
O principal desafio é passar da lei do desejo para a lei do consenso (“nem sempre posso fazer o que quero na hora em que eu tenho vontade ou do jeito que eu quiser”). Para que isso aconteça, é preciso desenvolver o controle da impulsividade (da raiva e do desejo), que possibilitará a autorregulação (por exemplo, distribuir o tempo dedicado aos deveres e aos prazeres) e a administração da raiva (“aprender a tomar conta da raiva para que ela não tome conta da gente”). Os desafios do desenvolvimento incluem também a percepção do outro (não somos o centro do mundo, os outros também existem e, com eles, precisamos fazer “acordos de bom convívio”). Por fim, a percepção de que “quando aprendemos a tomar conta de nós mesmos, ninguém precisa ficar mandando na gente” marca o caminho que vai da dependência quase total da criancinha para a autonomia e a contribuição recíproca dos vínculos maduros.
Limites claros, coerentes e consistentes, na família e na escola, são indispensáveis para o bom desenvolvimento emocional e para a inteligência dos relacionamentos. Isto significa trabalhar com a criança a descoberta de possibilidades (“Isso que você quer fazer agora não pode, mas vamos descobrir o que pode?” “Como você pode mostrar que ficou com raiva do seu amigo sem bater nele?”). Quando os limites não são respeitados, precisam gerar consequências cabíveis, caso contrário, a credibilidade da palavra enfraquece. Comunicação é palavra, expressão corporal e ação: quando esses três aspectos se integram, enviamos mensagens coerentes, mas quando se desencontram, é a palavra que perde o poder. É missão impossível educar crianças quando não contamos com o poder da nossa palavra.
Há um ditado inglês que ensina que “não devemos jogar fora o bebê junto com a água do banho”: por medo de serem autoritários, muitos pais não  exercem autoridade e afirmam que não conseguem dizer “não” aos filhos. Tentam delegar essa tarefa para a escola, sem perceber que os limites são essenciais nos dois contextos em que as crianças desenvolvem diferentes tipos de vínculo (na casa e na escola). Pior ainda é quando os pais que não dão os limites necessários se desentendem com os professores que colocam as consequências cabíveis para os comportamentos inaceitáveis ou para as tarefas e “combinados” que não são cumpridos.
É preciso aproveitar as oportunidades do cotidiano para colocar os limites devidos e construir bases sólidas da educação em valores, nessa parceria essencial entre família e escola. É isso que promove o desenvolvimento da inteligência dos relacionamentos.  Ao preparar crianças e jovens para viverem bem  no século XXI, sabemos que competência técnica não é suficiente para  a crescente demanda de conviver  em grupos e trabalhar em equipes: é preciso desenvolver o espírito empreendedor para perceber as oportunidades que se apresentam, aprender a administrar os conflitos que surgem das diferenças entre as pessoas, respeitar a diversidade e ter visão sistêmica. As principais características da inteligência dos relacionamentos são: a capacidade de pensar antes de agir, comunicar-se com clareza, ter empatia, oferecer colaboração, valorizar os vínculos (“ser é mais importante do que ter”). 

(Fonte:Maria Tereza Maldonado)



JUVENTUDE

A ousadia dos jovens para construir o novo

entrevista com Priscila Casale, publicada na edição nº 433, fevereiro de 2013.
Priscila Casale
Priscila Casale da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), São Paulo.
Mais uma vez a juventude é destacada como tema da Campanha da Fraternidade, como já havia sido em 1992. Desde aquela Campanha, talvez o que mais chame a atenção é a diversidade de jovens ou dos diferentes modos de ser jovem na contemporaneidade. Mas, se no início dos anos 1990, os “caras pintadas” saíam às ruas para se manifestar por ética e justiça na política, hoje a compreensão da juventude como sujeito de direitos é uma realidade que se afirma. É o que se conclui após a realização da 2ª Conferência Nacional de Juventude, conforme relata Priscila Casale, da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), São Paulo.
  • Quais são as principais características dos jovens? As características da juventude sempre foram, e continuam sendo, de transformar, de fazer revolução, de apresentar novas opiniões e, em especial, de se mobilizar e mobilizar todo o povo em torno de uma causa. Primeiro, por uma característica quase que fisiológica, o jovem vive um período bastante complicado da vida. É um momento em que começamos a ter as nossas primeiras experiências. Há o conflito da transição da infância para a vida adulta, é quando nos deparamos com os nossos principais desafios; quando começamos a ter uma relação mais profunda com o mundo. É o momento em que conseguimos aprofundar nossa relação com o mundo e entender quem somos, quais são os nossos passos e qual é o nosso dever.
  • Quais são as principais dificuldades e os desafios da juventude? Por conta das características da juventude, é um período da vida bastante complicado, mas também maravilhoso: é quando começamos a contraditar a ordem das coisas, das regras da sociedade. Eu acredito que para o desenvolvimento do indivíduo na sua plenitude, e para o mundo, para os desafios que o mundo tem, para a história da humanidade como um todo, a juventude cumpre um papel fundamental. Quanto aos problemas que a juventude sofre, acho que são os mesmos que a sociedade no geral sofre. Porém acredito que na juventude os problemas têm mais peso. Infelizmente, por exemplo, o jovem ainda tem mais dificuldade de conseguir trabalho decente, em especial quando se trata de uma jovem mulher ou de um jovem negro, um jovem da periferia.
  • O que mudou no Brasil em relação aos direitos e às políticas públicas para os jovens? Se a pessoa idosa, a criança e o adolescente têm os seus direitos, agora estamos reconhecendo que a juventude é também um ser de direitos e tem que buscar esses direitos. E são direitos com a finalidade de que a juventude consiga sua autonomia, sua emancipação, que ela não fique sempre dependente de uma ação tutelada do Estado, mas que consiga vivenciar plenamente sua condição juvenil e se colocar no mundo. Além disso, avançamos no que se refere às políticas públicas para a juventude. Desde as conferências livres, nos estados e municípios, foi oportunizado à juventude falar, mandar seus relatórios e opinar na construção dessas políticas públicas. Nisso há um avanço muito grande de incluir o jovem, porque ouvimos o jovem, sabendo o que ele quer.
  • O que representa a educação para os jovens? A educação é a bandeira central da juventude. Sempre foi. Desde o Ensino Fundamental, o acesso à universidade, até a conclusão do Ensino Superior. No Brasil, hoje, vemos avanços consideráveis, mas infelizmente a educação no nosso país ainda não corresponde às necessidades que tem a juventude e muito menos às necessidades que tem o Brasil. A juventude, nesse contexto todo, sofre bastante. Mas acredito que, mobilizada como está e participando das conferências em todos em níveis, podemos dar passos largos para que a juventude tenha mais direitos e participe do desenvolvimento do país. Este inclusive foi o lema da Conferência Nacional de Juventude, realizada em dezembro de 2011. Acredito que não tem como conquistar direitos se não for a partir do desenvolvimento do país.
  • O que ainda falta na educação brasileira? Por um lado, foi universalizado o acesso nos primeiros níveis da educação. Não vemos problemas de vagas. Mas existe o problema de acesso a uma educação pública de qualidade, porque não existe. São raras as exceções. Os institutos federais de educação e as escolas privadas desenvolvem a educação para o indivíduo de fato como deve ser, com uma estrutura adequada, com biblioteca, laboratório, levando em consideração os avanços tecnológicos, com computador, enfim, com tudo que precisamos para nos relacionarmos com o mundo e o que precisamos de fato para aprender. Até porque na escola não é só a nossa vida acadêmica que está em questão, mas é a nossa formação enquanto cidadãos. Passamos muitos anos da nossa vida dentro da escola. É onde aprendemos a respeitar o nosso próximo, a nos relacionar com o outro, enfim, onde a gente cresce e se desenvolve! A família cumpre um papel muito importante, mas a escola é fundamental.
  • Então a escola não atende às necessidades dos jovens? Penso que a escola não atende às necessidades do processo acadêmico, que é ensinar o estudante de verdade, de ele sair do terceiro ano do Ensino Médio mais bem preparado. E também não atende às outras necessidades. Vemos a imprensa noticiando crimes cometidos nas escolas, como tráfico de drogas e a violência. O espaço da escola não deve abrigar esse tipo de coisa. Precisa ser completamente diferente. Se a educação não cumpre o papel que precisa cumprir, é óbvio que deixa espaço para que aconteçam essas outras coisas que não deveriam acontecer nas escolas. Então é necessário investimento em educação e é necessário que a educação cumpra de fato o papel, que é de dar a possibilidade para que a gente cresça, se desenvolva. O ensino básico deve ser a porta de entrada para o mundo do trabalho e, em especial, para o acesso à universidade. Não dá para as coisas continuarem desse jeito. O espaço que existe entre o ensino básico e a universidade é um abismo enorme. No Brasil, os estudantes, hoje, concluem o terceiro ano sem condições. Existem casos, inclusive, de estudantes concluírem o terceiro ano do Ensino Médio sem saber ler e escrever. Dados recentes do Ministério da Educação relatam que mais de 50% deles ficam abaixo da nota mínima, por exemplo, em Matemática. Mas a juventude está disposta a lutar, a somar forças junto ao poder público para mudar essa situação.
  • Que importância têm os jovens para a sociedade? Na história do nosso país, a juventude sempre foi protagonista dos movimentos que lutaram para conquistar alguma coisa. Não só para a juventude, mas para o povo brasileiro como um todo. Alguns exemplos disso são o direito à exploração do petróleo no nosso país, o papel que cumpriu para a redemocratização do Brasil na época da ditadura militar, o voto direto, o impeachment de um presidente da República corrupto, as lutas recentes contra as privatizações do governo Fernando Henrique, a luta pelo acesso à universidade. Como fruto dessas lutas conquistamos o Prouni, o Reuni etc. Então, concretamente no Brasil, a juventude cumpre um papel fundamental e tem se mobilizado bastante através das entidades estudantis, a UNE, a UBES e todas as outras entidades dos municípios, dos estados. Nos últimos anos, cumpriram um papel muito importante, especificamente em relação a essa questão da educação.
  • E quais são as perspectivas para o futuro? A luta ainda é ferrenha para que a gente consiga as conquistas em todas as instâncias, municípios, estados e no Brasil. Temos que garantir mais investimento e, a partir daí, contribuir para melhorar todo o processo pedagógico, o currículo e o que a escola deve ser. Concretamente, a juventude tem se mobilizado, em especial pelas entidades estudantis. Mas há também jovens participando ativamente em partidos políticos. É muito importante a juventude se envolver, tomar partido sobre as questões da sociedade. A Conferência Nacional de Juventude é o ponto de encontro de todas essas lutas da juventude em todo o país. Além do resultado concreto, o que mobilizou de jovens desde as conferências municipais foi muito expressivo. No município de São Paulo, por exemplo, existe a demanda do transporte. É um assunto que se debate numa conferência e a juventude vai se reunindo através de suas organizações para concretizar essa demanda. Assim, outras necessidades são levantadas em cada recanto do país. Outro exemplo é o Estatuto da Juventude, que aponta e garante direitos e conquistas para toda a juventude brasileira. E foi um debate que surgiu a partir da organização dos jovens brasileiros.
    (Fonte: Mundo Jovem)