Bento XVI: Que 2013 traga espaço para boas notícias e o silêncio
Agência Ecclesia
O Papa pediu apoio aos que vivem “situações de pobreza e de marginalização, bem como as famílias em dificuldade"
O Papa Bento XVI presidiu
hoje, 31, no Vaticano uma cerimônia de agradecimento a Deus pelo ano que
passou, pedindo que 2013 traga mais espaço para o silêncio e para as
boas notícias.
“O mal faz mais barulho do que o bem: um
assassinato brutal, a propagação da violência, injustiças graves fazem
notícia; pelo contrário, os gestos de amor e de serviço, o cansaço
quotidiano suportado com fidelidade e paciência, muitas vezes na sombra,
não aparecem”, enfatizou o Papa, na homilia da cerimônia.
Bento
XVI sustentou, neste contexto, que as pessoas não se podem limitar
apenas às notícias para perceber o mundo e a vida. "Temos de ser capazes
de permanecer no silêncio, na meditação, na reflexão calma e prologada;
devemos saber parar para pensar”, prosseguiu.
De acordo com o
Papa, esta é uma maneira de encontrar “cura” para as “feridas
inevitáveis do cotidiano” e chegar à “sabedoria que permite avaliar as
coisas com olhos novos.
A cerimônia incluiu a proclamação do hino
‘Te Deum’ (nós te louvamos, Senhor), um dos mais antigos hinos
litúrgicos da Igreja, que se canta em celebrações solenes de ação de
graças. “Qualquer que seja o andamento do ano, fácil ou difícil, estéril
ou rico de frutos, nós damos graças a Deus”, disse Bento XVI, numa
reflexão a partir deste hino.
O Papa destacou que no ‘Te Deum’,
cantado neste dia em milhares de igrejas, se encontra uma “sabedoria
profunda”: “Esta sabedoria faz-nos dizer que, apesar de tudo, há bem no
mundo e este bem está destinado a vencer graças a Deus, o Deus de Jesus
Cristo, encarnado, morto e ressuscitado”.
Projetando 2013, no
qual a Igreja Católica prossegue o Ano da Fé iniciado em outubro, Bento
XVI deixou votos de que os próximos meses levem a uma “maior consciência
de que o encontro com Cristo é a fonte da verdadeira vida e de uma
esperança sólida”.
“A fé arrisca-se a ficar obscurecida em
contextos culturais que são obstáculos para o seu enraizamento pessoal e
a sua presença social”, alertou. O Papa desafiou os cristãos à
coerência de vida, em particular os que são pais, para que deem um
exemplo enquanto “educadores da fé”.
Dirigindo-se aos fiéis de
Roma, Bento XVI destacou a “complexidade da vida numa grande cidade” e a
cultura que “muitas vezes surge com indiferente na relação com Deus”.
Este
testemunho, frisou o Papa, implica o apoio aos que vivem “situações de
pobreza e de marginalização, bem como as famílias em dificuldade,
especialmente quando têm de assistir pessoas doentes e com deficiência”.
O
primeiro dia de 2013 será assinalado por Bento XVI por uma missa na
Basílica do Vaticano, às 9h30, na solenidade litúrgica de Maria
Santíssima, Mãe de Deus, e 46.º Dia Mundial da Paz.
Bento XVI na Solenidade da Mãe de Deus: "O homem é feito para a paz, que é dom de Deus"
Cidade do Vaticano (RV)
- O Papa Bento XVI celebrou na manhã deste 1º dia de 2013, na Basílica
de São Pedro, a Missa da Solenidade de Maria Santíssima, a Santa Mãe de
Deus.
No início de sua homilia, o Santo Padre destacou como “é
particularmente significativo que no início de cada novo ano Deus
projeta sobre nós, seu povo, a luminosidade de seu santo Nome que é
pronunciado três vezes na solene fórmula da bênção bíblica. E não menos
significativo é que ao Verbo de Deus – que <<se fez carne e veio
habituar no meio de nós>> como a <<luz verdadeira, que
ilumina todo homem>> – seja dado oito dias após o seu natal – como
nos narra o Evangelho de hoje – o nome de Jesus”. "É por este nome que
estamos aqui reunidos.”
Após, Bento XVI saudou os presentes,
começando pelos Embaixadores do Corpo diplomático acreditado junto à
Santa Sé, seguido por seu Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio
Bertone. Ao Cardeal Turkson e a todos os componentes do Pontifício
Conselho da Justiça e da Paz agradeceu pelo empenho em difundir a
Mensagem para o Dia Mundial da Paz, que este ano tem como tema
“Bem-aventurados os construtores de paz".
Falando sobre a
inspiração para a Mensagem do Dia Mundial da Paz deste ano, baseada no
Evangelho de São Mateus ‘Bem-aventurados os que promovem a paz, porque
serão chamados filhos de Deus’, explicou o Santo Padre: “infelizmente,
apesar de o mundo ainda estar marcado por ‘focos de tensão e de
conflitos causados pelas crescentes desigualdades entre ricos e pobres,
pelo prevalecimento de uma mentalidade egoísta e individualista expressa
inclusive por um capitalismo financeiro desregulado’, bem como por
diferentes formas de terrorismo e de criminalidade, tenho a convicção de
que ‘as multíplices obras de paz, das quais o mundo é rico, testemunham
a inata vocação da humanidade à paz. Em toda pessoa o desejo de paz é
aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o desejo de uma vida
plena, feliz e bem realizada. O homem é feito para a paz que é dom de
Deus”.
E acrescenta: “a bem-aventurança diz que ‘a paz é dom
messiânico e obra humana ao mesmo tempo. É paz com Deus, no viver
segundo a sua vontade. É paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o
próximo e com toda a criação’. Sim, a paz é o bem por excelência a ser
invocado como dom de Deus e, ao mesmo tempo, a ser construída com todo
esforço”.
Ao meditar sobre o fundamento, a origem e a raiz desta
Paz, Bento XVI destaca a figura de Maria, que permaneceu inabalável
diante de tantas dificuldades: “Como podemos sentir a paz em nós, apesar
dos problemas, das obscuridades, das angústias? A resposta nos é dada
pelas Leituras da liturgia de hoje. Os textos bíblicos, sobretudo o
texto extraído do Evangelho de Lucas, pouco antes proclamado, nos
propõem contemplar a paz interior de Maria, a Mãe de Jesus. Cumprem-se
para ela, durante os dias em que <<deu à luz o seu filho
primogênito>>, muitos eventos imprevistos: não somente o
nascimento do Filho, mas antes a viagem cansativa de Nazaré a Belém, o
não encontrar lugar no alojamento, a busca fortuita de um refúgio
durante a noite; e depois o canto dos anjos e a visita inesperada dos
pastores. Em tudo isso, porém, Maria não se perturba, não se agita, não
fica transtornada com os fatos maiores do que ela; simplesmente pondera,
em silêncio, o que acontece, guarda-o em sua memória e em seu coração,
refletindo sobre eles com calma e serenidade”.
E ressalta o
Santo Padre: “Essa é a paz interior que queremos ter em meio aos eventos
por vezes tumultuosos e confusos da história, eventos dos quais muitas
vezes não entendemos o sentido e que nos desconcertam”.
O Santo
Padre, explicando a identidade de Maria como Mãe de Deus, disse:
“segundo a Lei de Moisés, após oito dias do nascimento, a criança
deveria ser circuncidada, e naquele momento lhe era dado o nome. Deus
mesmo, mediante a sua mensagem, havia dito a Maria – e também a José –
que o nome a ser dado ao Menino era <<Jesus>>”. “Aquele nome
que Deus já havia estabelecido antes mesmo que o Menino fosse
concebido, agora lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E
isso marca uma vez para sempre também a identidade de Maria: ela é
<<a mãe de Jesus>>, ou seja, a mãe do Salvador, do Cristo,
do Senhor. Jesus não é um homem como qualquer outro, mas é o Verbo de
Deus, uma das Pessoas divinas, o Filho de Deus: por isso a Igreja deu a
Maria o título de Theotokos, isto é, <<Mãe de Deus>>”.
E
recorda bento XVI, referindo-se à primeira Leitura, Bento XVI: “a paz é
dom de Deus e está ligada ao esplendor do rosto de Deus, segundo o
texto do Livro dos Números, que transmite a bênção usada pelos
sacerdotes do povo de Israel nas assembléias litúrgicas”. “Da
contemplação da face Deus nascem alegria, segurança e paz”.
Então
Bento XVI explica o significado concreto do contemplar a face do
Senhor: “Significa conhecê-lo diretamente, por quanto é possível nesta
vida, mediante Jesus Cristo, no que se revelou. Gozar do esplendor da
face de Deus significa penetrar no mistério do seu Nome a nós
manifestado por Jesus, compreender algo da sua vida íntima e da sua
vontade, a fim de que possamos viver segundo o seu desígnio de amor
sobre a humanidade”. “O Filho de Deus feito carne fez-nos conhecer o
Pai, fez-nos perceber em sua face humana visível a face invisível do
Pai; através do dom do Espírito Santo derramado em nossos corações,
fez-nos conhecer que n'Ele também nós somos filhos de Deus”.
E o
Santo Padre acrescentou que a contemplação do esplendor da face de Deus
Pai em Jesus Cristo, que nos torna também filhos, nos dá “a mesma
segurança que o menino tem nos braços de um pai bom e onipotente”, e é
nesta contemplação que reside “o princípio daquela paz profunda -
<<paz com Deus>> - que está indissoluvelmente ligada à fé e à
graça”. “Nada pode tirar dos fiéis esta paz, nem mesmo as dificuldades e
os sofrimentos da vida”.
Por fim, o Pontífice pediu a Virgem
Maria, venerada hoje com o título de Mãe de Deus, que nos ajude a
contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz. “Que nos auxilie e nos
acompanhe neste novo ano; alcance para nós e para o mundo inteiro o dom
da paz”. (RL - JE)