Homilia do D. Henrique Soares da Costa – II Domingo do Advento – Ano C
Br 5,1-9
Sl 125
Fl 1,4-6.8-11
Na segunda leitura da Liturgia da Palavra deste Domingo II do
Advento, por duas vezes São Paulo refere-se ao Dia de Cristo: “Aquele
que começou em vós uma boa obra, há de levá-la à perfeição até ao Dia de
Cristo”; “que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e
experiência, para discernirdes o que é melhor. Assim ficareis puros e
sem defeito para o Dia de Cristo”. Para este Dia de Cristo, meus caros,
estamos nos preparando no santo Tempo do Advento. Dia de Cristo é o
Natal; Dia de Cristo é o “todo-dia”, quando sabemos reconhecer suas
visitas; Dia de Cristo será a sua Vinda gloriosa no final dos tempos.
Quem celebra piedosamente o Dia de Cristo no Natal e é atento pela
vigilância ao Dia de Cristo de “todo-dia”, estará pronto na perfeição do
amor, estará puro e sem defeito para o Dia de Cristo no final dos
tempos!
É certo que não poderemos fugir do Cristo Jesus: diante dele todos
nós estaremos um dia porque através dele e para ele fomos criados e
somente nele nossa existência chegará à sua plenitude. A primeira
leitura de hoje ilustra de modo comovente a situação da humanidade e
também a situação da Igreja, pequeno resto peregrino e acabrunhado sobre
esta terra: trata-se de uma humanidade sofrida, de uma Igreja em
exílio, mas que será consolada pelo Senhor. Recordemos a palavra de
Baruc profeta “Despe, ó Jerusalém, a veste de luto e de aflição, e
reveste, para sempre, os adornos da glória vinda de Deus!” Que belo
convite, que sonho, que felicidade, meus caros! Pensemos na nossa vida,
pensemos nas ânsias da Mãe Igreja, e alegremo-nos com o consolo que Deus
nos promete! “Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e põe na
cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus mostrará teu esplendor, ó
Jerusalém, a todos os que estão debaixo do céu!” Vede, caríssimos, o
nosso Deus como é: um Deus que promete, um Deus que abre a estrada da
esperança, um Deus que consola, um Deus que nos prepara um futuro de
bênção, de paz e de vida! Mas, quando será esta paz, de onde virá?
Escutai, caríssimos: “Levanta-te, Jerusalém – levanta-te, irmão;
levanta-te, irmã! Levanta-te, Mãe católica! – põe-te no alto e olha para
o Oriente!” O Oriente, meus caros é o lugar da luz, o lado no qual o
sol nasce e o dia começa; o Oriente é o próprio Cristo Jesus! Olhar para
o Oriente é esperar o Dia de Cristo, o Dia sem fim, a Luz que não tem
ocaso! Quem caminha sem olhar o Oriente, caminha sem saber para onde
vai; quem avança noutra direção, não caminha para a luz, mas vai ao
encontro das trevas: “des-orienta-se”! “Levanta-te, põe-te no alto e
olha para o Oriente!” Olha para o Cristo, vai ao seu encontro! Então, tu
verás a salvação de Deus; tu experimentarás que o Senhor não é Deus de
longe, mas de perto; tu experimentarás o quanto o Senhor é capaz de
consolar o que chorava, de acalmar o que estava aflito, de reconduzir o
transviado: “Vê teus filhos reunidos pela voz do Santo, desde o poente
até o levante, jubilosos por Deus ter-se lembrado deles. Deus ordenou
que se abaixassem todos os altos montes e as colinas eternas, e se
enchessem os vales, para aplainar a terra, a fim de que Israel sua
Igreja santa, seu povo eleito, caminhe com segurança sob a glória de
Deus!”
Vede, caríssimos, que é de paz que o Senhor nos fala, é a salvação
que nos promete! Se agora lançarmos as sementes da vida entre lágrimas,
haveremos de colher com alegria; se agora muitas vezes na tristeza
formos espalhando as sementes, um dia, no Dia de Cristo, nosso Oriente
bendito, com alegria voltaremos carregados com os frutos em feixes! As
promessas do Senhor, meus caros, fazem-nos compreender que nossa vida
tem sentido, que tudo quanto nos acontece pode e deve ser vivido à luz
de Deus! Uma das grandes misérias do nosso tempo é a solidão humana. Não
se trata de uma solidão qualquer, mas de uma sensação mortal de viver a
vida diante de ninguém, de caminhar a lugar nenhum, de gastar energia e
sonho para produzir vazio… Mas, quando voltamos o rosto para o Oriente,
quando nos deixamos banhar por sua luz que, como uma aurora bendita já
começa a difundir seus raios, então tudo se enche de paz e de alegria,
porque tudo ganha um novo sentido!
Caríssimos no Senhor, pensai na vossa vida concreta, nas vossas
semanas e dias feitos de experiências bem reais e miúdas… Pois bem,
Deus, em Cristo, visita a nossa vida! No Evangelho de hoje, quando São
Lucas narra o aparecimento de João Batista, o precursor do Messias, ele
começa mostrando como a palavra do Senhor, como a sua salvação nos
atinge e nos encontra bem no concreto de nossa vida, no nosso aqui e no
nosso agora. A salvação não é um mito, a vinda do Senhor até nós não é
uma estória de trancoso… Escutai como é concreta a sua vinda, como tem
uma história e uma geografia: “No décimo quinto ano do império de
Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes
administrava a Galiléia, seu irmão Filipe, as regiões da Ituréia e
Traconítide, e Lisânias, a Abilene; quando Anás e Caifás eram sumo
sacerdotes, foi então que a palavra de Deus foi dirigida a João, o filho
de Zacarias, no deserto.” Vede, irmãos, e compreendei: a Palavra de
Deus vem nós num “quando” e num “onde”. O “quando” é hoje, agora, neste
período da nossa vida; o “onde” é aí onde você vive: na sua casa, no seu
trabalho, nas suas relações, nos seus conflitos! É neste agora e neste
aqui, neste “quando” e neste “onde” que Deus vem ao nosso encontro em
Cristo Jesus! E o que devemos fazer para acolhê-lo? Como devemos
proceder para que não venha na os em vão? Como agir para que a sua luz
nos possa iluminar? Escutai ainda o Evangelho: “Preparai o caminho do
Senhor, endireitai suas veredas. Todo vale será aterrado, toda montanha e
colina serão rebaixadas; as passagens tortuosas ficarão retas e os
caminhos acidentados serão aplainados. E toda carne verá a salvação de
Deus”. Vê, meu irmão; presta atenção, minha irmã! É de ti que o Senhor
fala; é à tua vida que ele se refere: queres ver a luz do Oriente?
Queres dirigir-te para o Dia eterno? Queres realmente estar pronto para o
Dia de Cristo no Natal, no “todo-dia” e no Último Dia? Então, endireita
agora teus caminhos, abaixa as montanhas da soberba e do orgulho, aterá
os vales do medo, da covardia e do vão temor, e endireita as tortuosas
estradas de teus vícios e de teus pecados! Aí sim, tu e toda carne verão
a salvação de Deus: na celebração do Natal vamos vê-la reclinada num
pobre presépio, no “todo-dia” vamos experimentá-la de tantos modos e em
tantos momentos e, no Último Dia, Dia de Cristo, iremos vê-la face a
face como eterna delícia, alegria sem fim e vida imperecível! Vamos,
irmãos, caminhemos com fé ao encontro do Senhor! E para que o nosso
caminho não seja sem rumo e em vão, endireitemos desde agora as estradas
de nossa vida! Levantemo-nos, ponhamo-nos no alto da virtude e vejamos:
vem a nós a alegria do nosso Deus! A ele a glória pelos séculos dos
séculos. Amém.
D. Henrique Soares da Costa