A vida eterna não é um desdobramento infindo do tempo presente, mas algo de completamente novo: Bento XVI, na missa de sufrágio pelos Bispos falecidos
“A vida eterna não é um desdobramento interminável do tempo presente, mas algo de completamente novo” – sublinhou Bento XVI, neste sábado de manhã, na Missa a que presidiu, na basílica de São Pedro, em sufrágio pelos cardeais e bispos falecidos nos últimos doze meses.
O Papa começou por observar que a tradição de visitar os cemitérios por ocasião dos Fiéis Defuntos permite renovar o elo que nos une às pessoas queridos que nos deixaram.
“Paradoxalmente, a morte conserva aquilo que a vida não pode manter”.- observou. Como os nossos defuntos viveram, aquilo que amaram, recearam, esperaram, … nós o descobrimos, de modo singular, a partir dos túmulos, que permanecem como um espelho da sua existência… É como se os túmulos nos interpelassem, convidando-nos a restabelecer com os defuntos um diálogo que a morte pôs em crise… “Os lugares de sepultura constituem como uma espécie de assembleia, na qual os vivos encontram os próprios defuntos, com eles reforçando os vínculos de uma comunhão que a morte não pôde interromper”.
E o Papa prosseguiu aludindo às Catacumbas romanas, onde se adverte, mais do que em qualquer outro lugar, os elos profundos que nos ligam à cristandade antiga. É como se entrássemos em comunicação com aquele que ali conservam o seu passado, feito de alegrias e de dores, de derrotas e de esperanças.
“Isto acontece porque a morte diz respeito ao homem de hoje, exatamente como ao de então. E mesmo se tantas coisas dos tempos passados se nos tornaram alheiras, a morte permanece a mesma”.
Perante esta realidade, o ser humano de cada época procura um raio de luz que o faça esperar, que fale ainda de vida. È este desejo que a visita aos túmulos exprime. “Mas como respondemos nós, cristãos, à questão da morte?” – interrogou-se Bento XVI.
“Respondemos com a fé em Deus, com um olhar de sólida esperança que se fundamenta na Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. Então a morte desabrocha na vida, na vida eterna, que não é um desdobramento infindo do tempo presentes, mas algo de completamente novo”.
Sublinhando que é neste clima de fé e de oração que a assembleia litúrgica se encontrava reunida à volta do altar para oferecer o sacrifício eucarístico em sufrágios dos bispos falecidos no último ano, Bento XVI mencionou um a um os dez cardeais mortos desde dezembro passado, incluindo o cardeal Martini, a 31 de agosto…
A mesa eucarística – observou o Papa – antecipa de modo eloquente o que o Senhor prometeu no sermão da montanha: a posse do Reino dos Céus, o tomar parte na Jerusalém celeste. “A nossa oração é alimentada por esta firme esperança, que não engana, porque garantida por Cristo, que quis viver na carne a experiência da morte para triunfar sobre ela com o prodigioso acontecimento da Ressurreição”.
“É o próprio Espírito Santo, por meio do qual o amor de Deus foi derramado nos nossos corações, a fazer com que a nossa esperança não seja vã” – recordou o Papa. É graças ao Mistério pascal de Cristo, o único Justo, que, superando o limiar da morte, os nossos olhos poderaão ver a Deus, contemplar o seu rosto.
E Bento XVI concluiu a sua homilia convidados a dirigir o olhar a Maria, com amor confiante. Que ela vele sobre todos os que dormem o sono da paz, aguardando em jubilosa esperança a ressurreição. “E nós elevamos por eles, a Deus, a nossa oração, firmes na esperança de nos encontrarmos todos um dia, unidos para sempre no Paraíso”.
Ontem, dia dos Fiéis Defuntos, o Santo Padre deslocou-se à cripta desta mesma basílica para um momento de oração pessoal junto dos túmulos dos últimos Papas. Ocasião em que o Papa exortou os prestentes à oração de sufrágio: "Confiamos à misericórdia do Pai aqueles que têm aqui a sua sepultura, aguardando a ressurreição da carne, em especial os Sumos Pontífices que desempenharam o serviço de pastores da Igreja universal para que participem da eterna liturgia do céu". (RV)