quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Quarenta anos de “Jesus Cristo Libertador”.

07/10/2012
        
Entre os dias 7-10 de outubro está acontecendo em São Leopoldo junto ao Instituto Humanitas da Unisinos dos Jesuitas, a celebração dos 40 anos do surgimento da Teologia da Libertação. Lá estão os principais representantes da América Latina, especialmente, seu primeiro formulador, o peruano Gustavo Gutiérrez. Curiosamente no mesmo ano, 1971, sem que um soubesse do outro, tanto Gutiérrez (Peru), quanto Hugo Assman (Bolivia), Juan Luiz Segundo (Uruguai) e eu (Brasil) lançávamos nossos escritos, tidos como fundadores deste tipo de teologia. Não seria a irrupção Espírito que soprava em nosso Continente marcado por tantas opressões?
         Eu, para burlar os órgãos de controle e repressão dos militares, publicava todo mês no ano 1971 um artigo numa revista para religiosas Sponsa Christi (Esposa de Cristo) com o título: Jesus Cristo Libertador. Em março de 1972 reuni os artigos e arrisquei sua publicação em forma de livro. Tive que esconder-me por duas semanas, pois a polícia política me procurava.  As palavras “libertação” e “libertador”haviam sido banidas e não podiam ser usada publicamente. Custou muito ao advogado da Editora Vozes, que fora pracinha na Itália, para convencer os agentes da vigilância de que se tratava um livro de teologia, com muitos rodapés de literatura alemã e que não ameaçava o Estado de Segurança Nacional.
         Qual a singularidade do livro (hoje na 21.edição)? Ele apresentava, fundada numa exegese rigorosa dos evangelhos, uma figura do Jesus como libertador das várias opressões humanas. Com duas delas ele se confrontou diretamente: a religiosa sob a forma do farisaísmo da estrita observância das leis religiosas. A outra, política, a ocupação romana que implicava reconhecer o imperador como “deus” e  assistir a penetração da cultura helenística pagã em Israel.
À opressão religiosa Jesus contrapôs uma “lei” maior, a do amor incondicional a Deus e ao próximo. Este para ele é toda pessoa da qual eu me aproximo, especialmente os pobres e invisíveis, aqueles que socialmente não contam.
À política, ao invés de submeter-se ao Império dos Césares, ele anunciou o Reino de Deus, um delito de lesa-majestade. Este Reino comportava uma revolução absoluta do cosmos, da sociedade, de cada pessoa e uma redefinição do sentido da vida à luz do Deus, chamado de Abba, quer dizer,  paizinho bondoso e cheio de misericórdia fazendo que todos se sentissem seus filhos e filhas e irmãos e irmãs uns dos outros.
Jesus agia com a autoridade e a convicção de alguém enviado do Pai para libertar a criação ferida pelas injustiças. Mostrava um poder que aplacava tempestades, curava doentes, ressuscitava mortos e enchia de esperança todo o povo. Algo realmente revolucionário iria acontecer: a irrupção do Reino que é de Deus mas também dos humanos por seu engajamento.
Nas duas frente criou um conflito que o levou à cruz. Portanto, não morreu na cama cercado de discípulos.  Mas executado na cruz em consequência de sua mensagem e de sua prática. Tudo indicava que sua utopia fora frustrada. Mas eis que aconteceu um evento inaudito: a grama não cresceu sobre sua sepultura. Mulheres anunciaram aos apóstolos que Ele havia ressuscitado. A ressurreição não deve ser identificada com a reanimação de seu cadáver, como o de Lázaro. Mas como a irrupção do ser novo, não mais sujeito ao espaço-tempo e à entropia natural da vida. Por isso atravessava paredes, aparecia e desaparecia. Sua utopia do Reino, como transfiguração de todas as coisas, não podendo de realizar globalmente, se concretizou em sua pessoa mediante a ressurreição. É o Reino de Deus concretizado nele.
A ressurreição é o dado maior o cristianismo sem o qual ele não se sustenta. Sem esse evento bem-aventurado, Jesus seria como tantos profetas sacrificados pelos sistemas de opressão. A ressurreição significa a grande libertação e também uma insurreição contra este tipo de mundo. Quem ressuscita não é um Cesar ou um Sumo-Sacerdote, mas um crucificado. A ressurreição dá razão aos crucificados da história da justiça e do amor. Ela nos assegura que o algoz não triunfa sobre a vítima. Significa a realização as potencialidades escondidas em cada um de nós: a irrupção do homem novo.
Como entender essa pessoa? Os discípulos lhe atribuíram todos os títulos, Filho do Homem, Profeta, Messias e outros. Por fim concluíram: humano assim como Jesus só pode ser Deus mesmo. E começaram a chama-lo de Filho de Deus.
Anunciar um Jesus Cristo libertador no contexto de opressão que existia  ainda persiste no Brasil e na América Latina era e é perigoso. Não só para a sociedade dominante mas também para aquele tipo de Igreja que discrimina mulheres e leigos. Por isso seu sonho sempre será retomado por aqueles que se recusam aceitar o mundo assim como existe. Talvez seja este o sentido de um livro escrito há 40 anos.
Veja  o livro Jesus Cristo Libertador, Vozes, Petrópolis 2012.
Home > Igreja > 11/10/2012 16:42:30




Bispos exortam fiéis a redescobrir valor dos sacramentos



Cidade do Vaticano (RV) -“A participação nos sacramentos não é uma opção fácil”, afirmam os bispos dos Estados Unidos, em comunicado, fazendo referência especial à comemoração do início do Ano da Fé – convocado por Bento XVI para celebrar os 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II – no qual todos os fiéis são chamados a vivê-lo intensamente.

A prática sacramental constante é o sinal visível e concreto "para viver a fé como discípulos comprometidos", diz a nota - segundo informa o jornal vaticano L'Osservatore Romano - acompanhada por uma série de subsídios que ajudarão dioceses, bispos e padres a desenvolverem programas de educação sobre o tema.

A nota dos bispos estadunidenses segue a publicação, nos últimos dias, de um decálogo para o Ano da Fé. Será ainda apresentada uma série de "sugestões" espirituais para os fiéis desfrutarem plenamente deste ano especial, começando, em particular, com a participação assídua na Missa. Dentre as indicações incluem, além da participação nos sacramentos, a oração, atividades caritativas, leituras da Bíblia e de textos do Concílio Vaticano II.

Em nota preparada pelo setor de catequese e evangelização especial da Conferência Episcopal, os bispos norte-americanos afirmam "que, apesar das estatísticas, indicarem uma queda na participação, estamos conscientes de que a frequência nos sacramentos é essencial para sustentar a fé”. Nos sacramentos, acrescentam, "se continua a obra salvadora de Jesus e se forma o centro da celebração do mistério cristão".

Através do ministério da Igreja, "todos estão convidados a ouvir a Boa Nova, para seguir Cristo e para compartilhar os mistérios da salvação". Portanto, "o Ano da Fé é tempo para os católicos fortalecerem a sua fé através de um amor maior e de uma melhor compreensão do sacramento".

(MP)
Home > Sínodo > 11/10/2012 17:57:09




Primaz da Comunhão Anglicana no Sínodo: Vaticano II foi redescoberta da paixão evangélica


Cidade do Vaticano (RV) - Encontravam-se também presentes na missa solene de abertura do Ano da Fé, presidida na manhã desta quinta-feira por Bento XVI, os participantes do Sínodo dos Bispos, em andamento no Vaticano com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã".

Na tarde de quarta-feira teve lugar o pronunciamento do Arcebispo de Cantuária e Primaz da Comunhão Anglicana, Dr. Rowan Williams. Tratou-se de um dos pronunciamentos mais significativos do encontro.

Eram 18h locais quando Bento XVI entrou na Sala do Sínodo para ouvir o Primaz da Comunhão Anglicana. Tendo entrado de modo discreto, o Santo Padre colocou-se a ouvir o primaz anglicano, que fez um pronunciamento de amplo alcance.

O primeiro olhar do líder anglicano voltou-se para o Concílio, definindo-o "o sinal de uma grande promessa, o sinal de que a Igreja era suficientemente forte para fazer perguntas pertinentes sobre a adequação da própria cultura e das suas estruturas" para a complexidade do mundo moderno.

Na prática, disse o arcebispo anglicano, o Vaticano II foi uma redescoberta da paixão evangélica, concentrada na renovação e na credibilidade da Igreja no mundo.

Mas há um aspecto particularmente importante que o Concílio evidenciou, ressaltou o primaz anglicano: trata-se da antropologia cristã, ou seja, o compreender que proclamar o Evangelho significa dizer que é possível ser verdadeiramente humanos, criados à imagem da humanidade de Cristo. Nesse sentido, a fé católica e cristã representa "um verdadeiro humanismo".

Nessa ótica, ressaltou o arcebispo de Cantuária, a contemplação – isto é, o esquecer-se de si para olhar para Deus e para o próximo – representa a única resposta ao mundo" irreal e louco" criado pelos sistemas financeiros. E viver de modo contemplativo significa realizar um ato "profundamente revolucionário" porque significa aprender aquilo que nos serve para viver com fidelidade, honestidade e amor.

Portanto, justiça e amor caracterizam o rosto dos cristãos. E o primaz anglicano citou o exemplo das comunidades de Taizé, de Bose, das grandes redes espirituais como Santo Egidio, os Focolarinos de Chiara Lubich, Comunhão e Libertação: todas abertas a uma visão humana mais profunda, porque todas com o objetivo de tornar viva a realidade de Jesus.

Em seguida, o arcebispo de Cantuária abordou o tema do ecumenismo espiritual e reiterou que quanto mais os cristãos se distanciam uns dos outros, mais o rosto da nova humanidade se mostra menos convincente.

Nesse sentido, uma autêntica iniciativa de evangelização deverá ser sempre uma evangelização de si mesmo enquanto cristãos, uma redescoberta da fé que transfigura, um itinerário – não ambicioso, mas conduzido pelo Espírito – rumo à maturidade em Cristo, para tornar o Evangelho "atraente" aos homens do nosso tempo, na "alegria da comunhão".

Antes do pronunciamento do Arcebispo Williams, a Sala do Sínodo havia escutado outras numerosas reflexões, sobretudo, sobre o diálogo inter-religioso, que se inicia sempre – observam os Padres sinodais – com a afirmação das próprias convicções, sem sincretismo ou relativismo.

Portanto, diante de seguidores de outras religiões com uma forte identidade religiosa são necessários cristãos motivados e preparados do ponto de vista doutrinal, capazes de responder sobre a própria fé com simplicidade e sem medo.

É claro, evidenciou o Sínodo, não se trata de colocar a fé cristã entre parênteses, de recuar diante das perseguições e das discriminações.

Aliás, é preciso denunciar com veemência a violência que fere e que mata, mais inda injustificada quando se protege atrás de uma religião.

Todavia, ponderam os Padres sinodais, existem sinais positivos de amizade e fraternidade entre fiéis, como na Turquia, onde um coro formado por membros de cinco confissões entoam juntos cantos religiosos uma das outras, numa ótica que inspira a paz, encoraja a solidariedade, promove a justiça e defende a liberdade.

Por outro lado – é a consideração da Assembléia sinodal –, hoje o mundo e também o lugar da Igreja no mundo mudaram; sonhar o retorno da cristandade é uma ilusão. Porém, a Igreja não deve temer expor-se ao olhar da sociedade, mas tem a obrigação de ser uma testemunha que se pode ouvir e que seja crível.

O que se pode fazer, portanto? O Sínodo sugere formar sacerdotes capazes de serem verdadeiras testemunhas da fé; ajudar os catequistas, para os quais se auspicia a criação de um ministério estável; seguir o exemplo dos missionários, que encontram Deus em todas as coisas; evangelizar as famílias, base da sociedade.

Porque hoje não bastam a ciência, os documentos, as estruturas eclesiásticas: para responder às perguntas mais profundas do homem é necessário tocar o seu coração. E isso é possível mediante a mensagem da Divina Misericórdia, capaz de formar cristãos zelosos e responsáveis, portadores de sentido e de esperança para a humanidade, afirma o Sínodo.

No fundo, concluiu a Sala sinodal, a nova evangelização é uma "aventura espiritual" que não quer improvisações, mas uma conversão dos corações em nível pessoal, comunitário e institucional, no contexto do nosso tempo. (RL)

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Bento XVI abre oficialmente o Ano da Fé

Com uma Santa Missa realizada no Vaticano na manhã desta quinta-feira, 11, o Papa Bento XVI abriu oficialmente o Ano da Fé. A proposta do Pontífice é que este seja um tempo de reflexão para que fiéis católicos de todo o mundo possam redescobrir os valores da sua fé. 
No dia em que também se comemoram os 50 anos do início do Concílio Vaticano II, o Papa presidiu a celebração eucarística com a participação de 400 concelebrantes. Entre eles, estavam alguns brasileiros, como o cardeal arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. 
Fazendo memória ao jubileu de ouro do Concílio, um acontecimento que marcou a vida da Igreja, o Papa explicou que a celebração foi enriquecida com alguns sinais específicos. A procissão inicial quis lembrar a procissão dos Padres conciliares, houve a entronização do Evangeliário, que é uma cópia daquele utilizado durante o Concílio e a entrada das sete mensagens finais do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica. 
“Estes sinais não nos fazem apenas recordar, mas também nos oferecem a possibilidade de ir além da comemoração. Eles nos convidam a entrar mais profundamente no movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II, para que se possa assumi-lo e levá-lo adiante no seu verdadeiro sentido”, disse.
O Papa explicou que o Ano da Fé está em coerência com todo o caminho da Igreja nos últimos 50 anos, desde o Concílio, passando pelo Magistério do Servo de Deus, Paulo VI até chegar ao Jubileu do ano 2000, em que o Bem-Aventurado João Paulo II propôs à humanidade Jesus Cristo como único Salvador. 
“Jesus é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus”, enfatizou o Papa. Ele lembrou que, como diz o Evangelho do dia, Jesus Cristo é o “o verdadeiro e perene sujeito da evangelização”. 
Por que ter um Ano da Fé?
Ainda na homilia, o Papa Bento XVI explicou que a Igreja proclama um novo Ano da Fé não para “prestar honras a uma efeméride”, mas sim porque é necessário, mais ainda do que 50 anos atrás. 
Isso porque nos últimos decênios o Papa lembrou que se tem visto o avanço de uma “desertificação” espiritual, um vazio que se espalhou. Mas estas situações, de acordo com o ele, permitem redescobrir a alegria e a importância de crer. 
“No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente”.
Dessa forma, Bento XVI explicou que o modo de representar este Ano da Fé é como uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o essencial. “... nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas - como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão (cf. Lc 9,3), mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como é o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos”.

Concílio Vaticano II
Sobre o Concílio, Bento XVI destacou que seu objetivo não foi colocar a fé como tema de um documento específico. No entanto, ele explicou que o Concílio foi animado pela consciência e pelo desejo de “imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo”. 
O Santo Padre também enfatizou que numa ocasião como esta de hoje, o mais importante é reavivar na Igreja aquele desejo ardente que se teve no Concílio de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo. 
“Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apóie sobre uma base concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão”. 

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Homilia do Papa Bento XVI na abertura do Ano da Fé - 11/10/2012



Venerados Irmãos,
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje, com grande alegria, 50 anos depois da abertura do Concílio Vaticano II, damos início ao Ano da fé. Tenho o prazer de saudar a todos vós, especialmente Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca de Constantinopla, e Sua Graça Rowan Williams, Arcebispo de Cantuária. Saúdo também, de modo especial, os Patriarcas e Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais católicas, e os Presidentes das Conferências Episcopais. Para fazer memória do Concílio, que alguns dos aqui presentes – a quem saúdo com afeto especial - tivemos a graça de viver em primeira pessoa, esta celebração foi enriquecida com alguns sinais específicos: a procissão inicial, que quis recordar a memorável procissão dos Padres conciliares, quando entraram solenemente nesta Basílica; a entronização do Evangeliário, cópia daquele que foi utilizado durante o Concílio; e a entrega das sete mensagens finais do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica, que realizarei no termo desta celebração, antes da Bênção Final. Estes sinais não nos fazem apenas recordar, mas também nos oferecem a possibilidade de ir além da comemoração. Eles nos convidam a entrar mais profundamente no movimento espiritual que caracterizou o Vaticano II, para que se possa assumi-lo e levá-lo adiante no seu verdadeiro sentido. E este sentido foi e ainda é a fé em Cristo, a fé apostólica, animada pelo impulso interior que leva a comunicar Cristo a cada homem e a todos os homens, no peregrinar da Igreja nos caminhos da história.
O Ano da fé que estamos inaugurando hoje está ligado coerentemente com todo o caminho da Igreja ao longo dos últimos 50 anos: desde o Concílio, passando pelo Magistério do Servo de Deus Paulo VI, que proclamou um "Ano da Fé", em 1967, até chegar ao o Grande Jubileu do ano 2000, com o qual o Bem-Aventurado João Paulo II propôs novamente a toda a humanidade Jesus Cristo como único Salvador, ontem, hoje e sempre. Entre estes dois Pontífices, Paulo VI e João Paulo II, houve uma profunda e total convergência na visão de Cristo como o centro do cosmos e da história, e no ardente desejo apostólico de anunciá-lo ao mundo. Jesus é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus. Ele é o cumprimento das Escrituras e seu intérprete definitivo. Jesus Cristo não é apenas o objeto de fé, mas, como diz a Carta aos Hebreus, é aquele “que em nós começa e completa a obra da fé” (Hb 12,2).
O Evangelho de hoje nos fala que Jesus Cristo, consagrado pelo Pai no Espírito Santo, é o verdadeiro e perene sujeito da evangelização. “O Espírito do Senhor está sobre mim, / porque ele me consagrou com a unção / para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). Esta missão de Cristo, este movimento, continua no espaço e no tempo, ao longo dos séculos e continentes. É um movimento que parte do Pai e, com a força do Espírito, impele a levar a Boa-Nova aos pobres, tanto no sentido material como espiritual. A Igreja é o instrumento primordial e necessário desta obra de Cristo, uma vez que está unida a Ele como o corpo à cabeça. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21). Estas foram as palavras do Senhor Ressuscitado aos seus discípulos, que soprando sobre eles disse: “Recebei o Espírito Santo” (v. 22). O sujeito principal da evangelização do mundo é Deus, através de Jesus Cristo; mas o próprio Cristo quis transmitir à Igreja a missão, e o fez e continua a fazê-lo até o fim dos tempos infundindo o Espírito Santo nos discípulos, o mesmo Espírito que repousou sobre Ele, e n’Ele permaneceu durante toda a sua vida terrena, dando-lhe a força de “proclamar a libertação aos cativos / e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4,18-19).
O Concílio Vaticano II não quis colocar a fé como tema de um documento específico. E, no entanto, o Concílio esteve inteiramente animado pela consciência e pelo desejo de ter que, por assim dizer, imergir mais uma vez no mistério cristão, para poder propô-lo novamente e eficazmente para o homem contemporâneo. Neste sentido, o Servo de Deus Paulo VI, dois anos depois da conclusão do Concílio, se expressava usando estas palavras: “Se o Concílio não trata expressamente da fé, fala da fé a cada página, reconhece o seu caráter vital e sobrenatural, pressupõe-na íntegra e forte, e estrutura as suas doutrinas tendo a fé por alicerce. Bastaria recordar [algumas] afirmações do Concílio (...) para dar-se conta da importância fundamental que o Concílio, em consonância com a tradição doutrinal da Igreja, atribui à fé, a verdadeira fé, que tem a Cristo por fonte e o Magistério da Igreja como canal” (Catequese na Audiência Geral de 8 de março de 1967).
Agora, porém, temos de voltar para aquele que convocou o Concílio Vaticano II e que o inaugurou: o Bem-Aventurado João XXIII. No Discurso de Abertura, ele apresentou a finalidade principal do Concílio usando estas palavras: “O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. (...) Por isso, o objetivo principal deste Concílio não é a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal... Para isso, não havia necessidade de um Concílio... É necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e apresentada de forma a responder às exigências do nosso tempo” (AAS 54 [1962], 790791-792).
À luz destas palavras, entende-se aquilo que eu mesmo pude então experimentar: durante o Concílio havia uma tensão emocionante, em relação à tarefa comum de fazer resplandecer a verdade e a beleza da fé no hoje do nosso tempo, sem sacrificá-la frente às exigências do presente, nem mantê-la presa ao passado: na fé ecoa o eterno presente de Deus, que transcende o tempo, mas que só pode ser acolhida no nosso hoje, que não torna a repetir-se. Por isso, julgo que a coisa mais importante, especialmente numa ocasião tão significativa como a presente, seja reavivar em toda a Igreja aquela tensão positiva, aquele desejo ardente de anunciar novamente Cristo ao homem contemporâneo. Mas para que este impulso interior à nova evangelização não seja só um ideal e não peque de confusão, é necessário que ele se apóie sobre uma base concreta e precisa, e esta base são os documentos do Concílio Vaticano II, nos quais este impulso encontrou a sua expressão. É por isso que repetidamente tenho insistido na necessidade de retornar, por assim dizer, à “letra” do Concílio - ou seja, aos seus textos - para também encontrar o seu verdadeiro espírito; e tenho repetido que neles se encontra a verdadeira herança do Concílio Vaticano II. A referência aos documentos protege dos extremos tanto de nostalgias anacrônicas como de avanços excessivos, permitindo captar a novidade na continuidade. O Concílio não excogitou nada de novo em matéria de fé, nem quis substituir aquilo que existia antes. Pelo contrário, preocupou-se em fazer com que a mesma fé continue a ser vivida no presente, continue a ser uma fé viva em um mundo em mudança.
Se nos colocarmos em sintonia com a orientação autêntica que o Bem-Aventurado João XXIII queria dar ao Vaticano II, poderemos atualizá-la ao longo deste Ano da Fé, no único caminho da Igreja que quer aprofundar continuamente a “bagagem” da fé que Cristo lhe confiou. Os Padres conciliares queriam voltar a apresentar a fé de uma forma eficaz, e se quiseram abrir-se com confiança ao diálogo com o mundo moderno foi justamente porque eles estavam seguros da sua fé, da rocha firme em que se apoiavam. Contudo, nos anos seguintes, muitos acolheram acriticamente a mentalidade dominante, questionando os próprios fundamentos do depositum fidei a qual infelizmente já não consideravam como própria diante daquilo que tinham por verdade.
Se a Igreja hoje propõe um novo Ano da Fé e a nova evangelização, não é para prestar honras a uma efeméride, mas porque é necessário, ainda mais do que há 50 anos! E a resposta que se deve dar a esta necessidade é a mesma desejada pelos Papas e Padres conciliares e que está contida nos seus documentos. Até mesmo a iniciativa de criar um Concílio Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização – ao qual agradeço o empenho especial para o Ano da Fé – enquadra-se nessa perspectiva. Nos últimos decênios tem-se visto o avanço de uma "desertificação" espiritual. Qual fosse o valor de uma vida, de um mundo sem Deus, no tempo do Concílio já se podia perceber a partir de algumas páginas trágicas da história, mas agora, infelizmente, o vemos ao nosso redor todos os dias. É o vazio que se espalhou. No entanto, é precisamente a partir da experiência deste deserto, deste vazio, que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. No deserto é possível redescobrir o valor daquilo que é essencial para a vida; assim sendo, no mundo de hoje, há inúmeros sinais da sede de Deus, do sentido último da vida, ainda que muitas vezes expressos implícita ou negativamente. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus que liberta do pessimismo. Hoje, mais do que nunca, evangelizar significa testemunhar uma vida nova, transformada por Deus, indicando assim o caminho. A primeira Leitura falava da sabedoria do viajante (cf. Eclo 34,9-13): a viagem é uma metáfora da vida, e o viajante sábio é aquele que aprendeu a arte de viver e pode compartilhá-la com os irmãos - como acontece com os peregrinos no Caminho de Santiago, ou em outros caminhos de peregrinação que, não por acaso, estão novamente em voga nestes últimos anos. Por que tantas pessoas hoje sentem a necessidade de fazer esses caminhos? Não seria porque neles encontraram, ou pelo menos intuíram o significado do nosso estar no mundo? Eis aqui o modo como podemos representar este ano da Fé: uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: nem cajado, nem sacola, nem pão, nem dinheiro, nem duas túnicas - como o Senhor exorta aos Apóstolos ao enviá-los em missão (cf. Lc 9,3), mas sim o Evangelho e a fé da Igreja, dos quais os documentos do Concílio Vaticano II são uma expressão luminosa, assim como é o Catecismo da Igreja Católica, publicado há 20 anos.
Venerados e queridos irmãos, no dia 11 de outubro de 1962, celebrava-se a festa de Santa Maria, Mãe de Deus. A Ela lhe confiamos o Ano da Fé, tal como fiz há uma semana, quando fui, em peregrinação, a Loreto. Que a Virgem Maria brilhe sempre qual estrela no caminho da nova evangelização. Que Ela nos ajude a pôr em prática a exortação do Apóstolo Paulo: “A palavra de Cristo, em toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros, com toda a sabedoria... Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus. Por meio dele dai graças a Deus Pai” (Col 3,16-17). Amém.

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Ano da Fé será aberto no Brasil na festa da Padroeira

O Ano da Fé, que será oficialmente aberto pelo Papa Bento XVI em Roma nesta quinta-feira (11), terá início oficial na Igreja do Brasil no dia 12 de outubro, data em que se comemora a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A abertura se dará durante a missa solene da festa no Santuário Nacional, às 10h, que terá a presidência do Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes.
A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convidou Dom Claudio para presidir a Celebração Eucarística porque o Cardeal Arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno Assis, está em Roma onde participa da abertura a convite do papa. 
Dom Damasceno explicou que esta não é a primeira vez em que o Papa proclama um Ano da Fé. “O Papa Paulo VI, que é hoje venerado como Servo de Deus, proclamou também o Ano da Fé em 1967”. 
O presidente da CNBB ressaltou ainda que Bento XVI, na Carta Apostólica Porta fidei (Porta da Fé), recorda a beleza e a centralidade da fé a nível pessoal e comunitário e fazê-lo em uma dimensão missionária. 
“Precisamos fazer com que a beleza e a centralidade da fé cheguem até as pessoas que não conhecem Jesus Cristo e também na ótica da nova evangelização, isto é, fazer com que as pessoas que foram evangelizadas, mas que se esqueceram de Jesus recuperem a sua fé e retornem a vida da comunidade”, acrescentou o Cardeal.
Dom Damasceno reforçou que o Ano da Fé deve ser um momento para propor a leitura dos documentos do Concílio Vaticano II e aprofundar a sua reflexão para encontrar uma luz para nos guiar como cristãos no mundo de hoje.
“Portanto, a renovação da fé deve ser prioridade, um compromisso de toda a Igreja nos nossos dias”, acrescentou.
Fonte: CNBB
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Dom Jaime nomeia membro para Comissão Missionária da Arquidiocese de Natal



O Arcebispo, Dom Jaime Vieira Rocha, nomeou 12 novos membros para a Comissão Missionária Arquidiocesana. A nova Comissão é composta pelo Padre Edvaldo Alexandre de Brito, coordenador da equipe, Padre Alberto Riverte, Irmã Alexandrina Ponce Ortega, Irmã Eulália Batista de Moura, Irmã Wilma Tavares de Oliveira, Irmã Maria de Fátima de Souza Dantas, Jecione da Silva Melo, Marcondes Eduardo Alexandre, Jean Franco de Oliveira Tavares, Diego Rego e Randenclécio de Souza Xavier.
Segundo o coordenador, Padre Edvaldo Brito, a Comissão se reúne, mensalmente, sempre na primeira terça-feira, às 9 horas, na sala da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, localizada no Centro Pastoral Pio X - subsolo da Catedral.
Fonte: Pascom da Arquidiocese de Natal