Conforme já é do conhecimento de quase todos os
cristãos católicos, neste último domingo do mês de setembro, a Igreja celebra o
dia da Bíblia. Encerramos, portanto, o mês da Bíblia, a Carta magna do povo de
Deus. Por ela o Espírito nos deu a oportunidade de conhecer e amar o seu
Projeto de Amor.
Como acontece em todas as
celebrações dominicais, a liturgia nos oferece sempre um número de três
leituras. As leituras selecionada para este domingo são as seguintes: Nm
11,25-29; Tg 5,1-6; Mc 9,38-48.
Evangelho
Desta vez, irei me deter na
segunda parte do trecho do Evangelho (vv. 41-48), que, aliás, contém uma série de
ensinamentos independentes um do outro, tais como: “Apelo à hospitalidade”;
“palavras duras contra aqueles que escandalizam os pequenos”; por fim, a
advertência a respeito de uma modalidade de escândalo, a quem vem do íntimo”.
Essas analogias usadas por Jesus
eram bastante conhecidas no seu tempo e frequentemente ditas pelos rabinos para
advertir, sacudindo as pessoas a uma seriedade de vida mais profunda, em
relação aos deveres em relação a Deus e ao próximo.
Na verdade, o que interessa a Jesus
é que os seus seguidores não desperdicem a própria vida neste mundo. Quem
dissipa a própria vida, perde para sempre a oportunidade de crescimento no amor
de Deus, no amor aos seus semelhantes.
Como vemos, o Evangelho está bem
sintonizado com a primeira leitura. Convida
ao respeito e à confiante expectativa, e a perceber nos que não são dos nossos
não um inimigo em potencial ou um concorrente, mas uma sintonia interior, que pode
terminar sendo a de um companheiro de fé (Missal Dominical, XXVI).
É-nos visível em Jesus a sua
preocupação em colocar de sobreaviso seus discípulos contra a tentação de
querer ter o “monopólio” dos dons do Senhor.
A mesma atitude devem ter as
instituições, mesmo provindo da iniciativa divina. O que importa é o uso que delas
fazem os homens. “Cuidado para monopolizar a Deus”.
É
repugnante e triste pensar que o Espírito Santo só age em nós, em nossas
comunidades, nas nossas pastorais, nos nossos movimentos, nos nossos grupos, na
nossa Igreja. Total equívoco!
E mais: "O
moralismo
e o juridicismo fizeram muito mal à Igreja. São gravemente responsáveis pela
partida de muitos, pela indiferença de um número ainda maior de outros, e pela
falta de interesse dos que poderiam olhar a Igreja com simpatia, mas são
tomados de desânimo diante do nosso farisaísmo."
Será
a surpresa de cristãos e de católicos quando virem que não entrarão sozinhos na
casa do Pai... Porque o coração do Pai é muito maior que os registros de mentes
fechadas, e que o Espírito do Pai sopra por toda parte, mesmo lá aonde os missionários
ainda não aportaram!
1ª leitura
Na primeira leitura, encontramos
Moisés reclamando a Deus: Eu sozinho não posso suportar a carga de um povo tão
numeroso e indisciplinado (cf. Nm 11, 10).
O Senhor então respondeu a Moisés:
“Escolhe 70 homens (anciãos) que estejam em condições de colaborar contigo:
sobre eles farei descer o mesmo espírito que se encontrava em ti” (Nm
11,16-18). Os setenta anciãos representam as lideranças para animar a
organização do povo. Eles pertencem, portanto, ao grupo liderado por Moisés.
Mais eis que duas pessoas chamadas: “Eldade” e “Medad”, que não estavam na
tenda recebem o dom do Espírito e começam a profetizar.
E, então, formou-se uma grande
confusão! A questão é: como era possível que pessoas estranhas tivessem
recebido o mesmo dom Deus sem fazerem parte do grupo dos escolhidos? Quanto fechamento!
Foi triste agir assim! Quando deveriam alegrar-se pelo fato que o espírito
também tinha descido sobre os que não pertenciam à “estrutura”. Por isso, alguém
ficou indignado e foi pedir a Moisés para que interviesse a fim de impedi-los
de profetizar. Impressiona-nos em ver o próprio Josué, associando-se aos que
queriam restabelecer a ordem e a hierarquia.
Moisés, porém, respondeu: Por que és
tão zeloso por mim? Prouvera que todos os membros do povo do Senhor recebessem
o espírito e se tornassem profetas.
E, agora, que ensinamentos tirarmos
de tal episódio?
-
1º) Que
história é essa de proclamar que o Espírito Santo dirige a gente, a história, e
somente quando tudo corre de acordo com nossa vontade? Nenhuma instituição, sequer de
origem divina, pode monopolizar a Ação do Espírito de Deus;
-
2º) Atenção para o ensinamento central da leitura: a reprovação do fanatismo.
Fanático é aquele que agride a quem não pense como ele ou que não faz parte do
seu grupo. Cuidado com os fanáticos, porque eles são perigosos demais! E quando
se dizem religiosos, haja perigo!
2ª leitura
Pela posição dada por Tiago, é
possível que sim, é possível que não, serem esses ricos exploradores membros da
comunidade. Quantos cristãos, cuja fé é morta. Contudo, é seguro a preocupação
do autor em relação a terrível injustiça social.
Sem
sombra de dúvida, Tiago, de maneira categórica, denuncia a situação social em
que os pobres estão sendo oprimidos.
Quando
a Igreja denuncia a injustiça social, conforme faz Tiago, é considerada
comunista. Aliás, é possível que alguém venha a ignorar o que o trecho está
dizendo, mais ou menos assim: A riqueza acumulada não mãos desses senhores,
fruto do suor e do sangue dos marginalizados, se tornará motivo de sua própria
condenação. É bom tomarmos cuidado, lendo bem o texto e o contexto,
aplicando-os a nós mesmos!
Quer
dizer que a virtude das virtudes, a virtude sem a qual, todas as demais nada
são e nada valem é a Caridade. Deus é Amor.
“O Papa João XXIII que mergulhara nessa
verdade, nos avisava e nos pedia: “Não saiam da caridade para vocês não saírem
de Deus” (D. Helder).
Pe.
Francisco de Assis Inácio
Pároco
de Nova Cruz - RN