sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Enem: os rankings que mentem

A lista de melhores e piores escolas, elaborada com base no Enem, contém distorções e imprecisões que colocam em xeque sua validade


Fragilidade do ranking do Enem. Ilustração: Vilmar Oliveira
No último dia 22, o Ministério da Educação (MEC) divulgou as médias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) alcançadas por cada escola em 2011. Quase instantaneamente, os dados geraram rankings das instituições com melhores e piores desempenhos. Esse tipo de organização da informação é sempre uma maneira complicada de analisar dados de Educação.
A formação de rankings de forma geral é míope, pois não considera a realidade na qual a escola está inserida. Informações como o perfil dos alunos, dos professores e da comunidade, que impactam diretamente o desempenho dos estudantes, são deixadas de lado. "O nível socioeconômico é um fator que interfere de forma muito intensa nos resultados", explica Ruben Klein, especialista em estatísticas sobre desempenho educacional da Fundação Cesgranrio.
Além disso, é necessário levar em conta que parte das instituições nas primeiras posições dos rankings utiliza estratégias para maquiar seu desempenho. Além das provas de ingresso, que filtram apenas os bons alunos, há colégios que selecionam os estudantes no decorrer da Educação Básica, fazendo com que apenas quem alcança as melhores notas chegue ao último ano e participe da avaliação.
Falando especificamente no Enem, existem ainda outros agravantes. Questões metodológicas colocam em xeque a validade das notas do exame para analisar a qualidade das escolas - e da Educação. Em primeiro lugar, trata-se de uma prova de adesão voluntária. A decisão de participar ou não fica a cargo do aluno e tem com base tanto motivações internas (como o desejo de concorrer a uma vaga na universidade) quanto influências externas (muitas vezes, da própria escola). O universo de estudantes que realiza a avaliação, portanto, não é representativo nem das instituições, nem do país.
A prova em si também não é adequada para fazer uma análise mais ampla da Educação. De acordo com Gisele Gama de Andrade, pós-doutora em avaliação educacional e diretora-presidente da Abaquar Consultores, o Enem é desenvolvido com base em uma lista de habilidades que os alunos devem ter ao final do Ensino Médio. "Na hora da prova, cada habilidade é testada apenas uma ou duas vezes. Para uma análise do sistema de ensino, é necessário que elas sejam testadas várias vezes, para saber se, de fato, os alunos a possuem ou não", exemplifica a especialista.
Ainda que todo esse panorama fosse diferente, a criação de rankings continuaria não sendo uma ferramenta válida. "É uma lástima observarmos nossas escolas apenas como boas ou ruins", lamenta Maria Nilene Badeca da Costa, secretária estadual de Educação de Mato Grosso do Sul e presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed). "Todas as demais análises que devem ser feitas no que diz respeito ao processo de ensino e de aprendizagem são esquecidas", diz ela. O ideal seria analisar a quantidade de alunos que atingiu um nível adequado de aprendizagem, e não apenas apresentar a média alcançada pela instituição.
Dentro do modelo de exame que se tem hoje, portanto, a publicação de resultados por escola gera interpretações erradas e deveria ser evitada. "Se o Enem é um processo seletivo, ele deve se encerrar com a divulgação dos alunos aprovados", defende Gisele. Os resultados de cada escola até poderiam ser entregues à direção, como forma de ajudar a mapear problemas e possíveis soluções. Mas o processo deveria parar aí. Afinal, o exame pode até indicar aspectos pontuais, mas está longe de ser uma fonte segura para analisar todo o trabalho realizado ao longo do Ensino Médio. Para isso, seria preciso criar uma nova avaliação.
Fonte: Nova Escola

Excluir as notas de redação dos resultados do ENEM compromete a avaliação do desempenho do ensino. Saber escrever é competência essencial.

Notícia triste: Crianças e jovens apresentam mais excesso que falta de peso; 1/3 crianças de 5 a 9 anos está com sobrepeso, diz IBGE.

IBGE: Ens. médio público tem 8,6% de estudantes de famílias ricas. Na rede particular, 53% são ricos e 3,8% de classe mais baixa.

Notícia boa: Análise do Censo 2010_IBGE mostra que mortalidade infantil no primeiro ano de vida caiu 47,6% em relação ao de 2000.
O analfabetismo é um problema sério que necessita empenho de todos no sentido de superação dessa questão social. Temos que dar uma justificativa sobre o analfabetismo, além da evasão escolar por parte de jovens e adultos. Qual é o rumo da educação? Pensar a educação deixando de fora problemas como esses acima citados, significa que seremos afetados por maiores problemas no futuro. Em primeiro lugar, não são poucos os evadidos. Que futuro terão? Por outro lado cresce o analfabetismo. O que fazer diante desse problema? Esses problemas apontam para soluções que venham a partir da organização da sociedade. Não podemos esperar por aqueles que nada fizeram ou nada fazem pela educação. Os sindicatos deviam ser educativos. Deviam promover seminários, congressos, cursos que tratassem dessa questão. Não é para fugir dos problemas, mas ir ao encontro dos problemas e resolvê-los.
(Carlos: Professor)

Índios Guarani Kaiowá no MS vivem em situação de campo de confinamento, alerta Ministério Público Federal

29/11/2012 | Cecília de Paiva, jornalista Sem a terra garantida e reconhecida, não há 'Tekoha', o viver bem - modo de vida indígena. "Em Mato Grosso do Sul, o que se ouve são relatos de morte e cerceamento da liberdade". Os índios guarani kaiowá no MS vivem em situação "comparável a um campo de confinamento. Entre a mata ou à beira do rio, sem ter como ir e vir, chegar para falar de saúde ou educação é impensável, porque lá, estar livre é algo pró forma, só aparentemente. O direito mais básico é violado". Afirmações como essas foram feitas por integrantes da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, 6ª CCR, durante coletiva de imprensa dia 28 de novembro de 2012, em Campo Grande, MS, motivada por visitas a aldeias do sul do estado, em áreas de denúncias de violações de direitos fundamentais indígenas.
Conforme a sub-procuradora geral da República, Gilda Pereira de Carvalho, o grupo formado por procuradores e antropólogos esteve em Iguatemi, na aldeia Pyelito Kue, e em Paranhos, na aldeia Arroyo Corá e na comunidade do Rio Y'Poi. Sobre essa comunidade, existe a denúncia de envenenamento ocorrido em 14 de novembro, em que a água ficou cheia de espuma e sem condições de uso. O caso está em investigações na Polícia Federal, porém, foram ouvidos relatos sobre o que aconteceu, com registro de narrativas sobre a coleta de amostra da água no mesmo dia, e da filmagem com a espuma descendo rio abaixo. Segundo o antropólogo Marco Paulo Schettino, atualmente há um poço aberto recentemente que atende precariamente os cerca de duzentos kaiowá guarani do local.
Nas visitações da 6ª CCR, Gilda Pereira disse que todos são recebidos sempre com muita emoção, com dança e canções indígenas, porém, "se vê muito sofrimento e tem gente mais velha com marcas no corpo, inclusive de balas. Os índios de Pyelito Kue querem acesso à estrada porque só conseguem atravessar o rio quando amarram uma corda à outra margem, como suporte de segurança", contou a sub-procuradora. Afirmou que, pela violação de tantos direitos, o grupo atua também em consulta com outros atores sociais ligados ao tema. Inclusive, durante a permanência em MS, há visitas em órgãos representativos do Estado, entre eles, Governadoria, Ministério Público Estadual, Ordem dos Advogados do Brasil-MS, Tribunal de Justiça, Assembleia Legislativa, Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul. Afinal é preciso envolver a sociedade, pois "o que os guarani kaiowá sofrem, sem os direitos mais básicos, não há notícia igual ao que acontece em MS. O que já se ouviu de outros estados é ínfimo. É o nível mais avassalador que se pode imaginar", pontuou o procurador da República Emerson Siqueira, atuante na região afetada.
Com relação às interferências sofridas pelos indígenas em suas tradições, Gilda Pereira acredita que a espiritualidade e o modo como eles mostram suas características é muito forte. "O indígena pode até assimilar o modo como vivemos, mas isso é com um ou outro, não um povo inteiro, uma nação. O que a Constituição Federal quer, e não só ela, mas tratados internacionais, é propiciar ao índio a vivência de sua cultura. E se um ou outro índio quiser ser diferente ou assimilar outras culturas, é também o seu direito", exemplificou a representante do MPF, deixando clara qual a fundamentação das análises que faz.
A 6ª CCR atua em favor dos direitos indígenas, das minorias e da população das comunidades tradicionais, permanecendo em MS até o dia 29 de novembro, para então apresentar relatório e recomendações necessárias sobre o tema.
Fotos: MPF
Fonte: COMIRE Oeste 1 / Revista Missões