sábado, 15 de dezembro de 2012

Terra e ciência sinalizam: o futuro é hoje, e é quente

14/12/2012 | Washington Novaes * "Uma pesquisa do Global Carbon Project dizia que, até o fim deste mês, as emissões globais no ano atingirão 35,6 bilhões de toneladas de carbono, 2,6% mais que em 2011 e 54% mais que em 1990", informa Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 14-12-2012.
Segundo o jornalista, "apesar dos fatos, das estatísticas, das pesquisas, continuamos a nos comportar como se tivéssemos prazos infinitos. Só que, como diz James Hansen, cientista da Nasa, "o futuro é agora; e ele é quente".
Eis o artigo.
Como já prevíramos neste espaço (18/11), a 18.ª reunião dos 194 países-membros da Convenção do Clima em Doha, no Catar (22/11 a 7/12), não conseguiu nenhum avanço importante - a não ser a prenunciada prorrogação, até 2020, do Protocolo de Kyoto, de 1997, que venceria no próximo dia 31 e propunha a redução de 5,2% das emissões poluentes dos países industrializados (calculadas sobre as de 1990, que já aumentaram 50%) em troca de financiamentos para projetos redutores em outros países. A prorrogação era fundamental para o sistema financeiro, pelo qual foram negociados em uma década 5 mil projetos dessa natureza em 81 países - entre eles o Brasil, que apoiou "com entusiasmo" a continuação -, porque o mercado decorrente dessas iniciativas movimenta muitas dezenas de bilhões de dólares (mas, na última semana antes da reunião, o valor da tonelada de carbono negociada nesse mercado, que em outros tempos já valera até US$ 80, caíra para menos de US$ 1).
Ainda assim, ela foi aprovada na penúltima hora, com a direção da convenção passando por cima dos protestos da Rússia e de outros países da antiga área soviética, que queriam continuar comercializando o hot air, isto é, a redução de emissões que tiveram com o processo de desindustrialização em várias nações após a redivisão territorial e política. A mesa dos trabalhos decidiu fazer-se de surda aos protestos e às opiniões contrárias também dos Estados Unidos (que nunca homologaram o protocolo de 1997), do Canadá, do Japão, da Nova Zelândia e da China. Na verdade, a prorrogação agora só abrange 15% das emissões em países da comunidade europeia, na Austrália, na Suíça e em mais oito nações.
Hoje 60% das emissões já estão nos países "emergentes" e outros não industrializados. A China é a maior emissora (6,6 toneladas anuais por pessoa), à frente, dos Estados Unidos (17,2 toneladas per capita) e seguida pela Índia. A União Europeia emite 7,3 toneladas por pessoa. O Brasil, segundo o ex-economista-chefe do Banco Mundial lorde Nicholas Stern, mais de 10 toneladas anuais por pessoa, incluídas as emissões por desmatamento. De 1990 para cá os Estados Unidos aumentaram suas emissões em 10,8%, a União Europeia diminuiu as suas em 18%.
O próprio secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou na convenção que "o mundo precisa acelerar suas ações", diante do quadro atual de secas na Ucrânia, na Índia, no Brasil, da supertempestade Sandy nos Estados Unidos, de inundações na China, em Moçambique, na Colômbia, na Austrália, do derretimento dos gelos polares em níveis inéditos, da degradação do solo, que afeta 1,5 bilhão de pessoas. Mas nada disso comoveu os países industrializados, que, envolvidos na crise econômico-financeira, não quiseram avançar no compromisso de doar, para um fundo de US$ 100 bilhões anuais, recursos para que os países mais pobres enfrentem o problema e mitiguem as mudanças. Nem para transferir gratuitamente tecnologias. O representante das Filipinas chegou a chorar no plenário, ante esse quadro, e foi aplaudido pelos delegados de dezenas de países-ilhas, que já estão sendo atingidos pela elevação do nível dos oceanos.
A ministra brasileira do Meio Ambiente, embora lamentando o impasse nas negociações mais amplas, considerou o avanço em relação a Kyoto "um resultado histórico". Disse que o Brasil "está orgulhoso" com a redução do desmatamento na Amazônia. E será favorável ao compromisso geral previsto para 2015.
Nas palavras, praticamente todos os países continuaram dizendo que se espera chegar a 2015 com esse compromisso obrigatório de redução de emissões para todas as nações - mas que só entre em vigor a partir de 2020. Um tanto enigmático, o representante norte-americano garantiu que o governo Barack Obama, até 2020, reduzirá as emissões nacionais em 17%, calculadas sobre as de 2005. Mas não aceitou compromisso de contribuir para um fundo imediato de US$ 60 bilhões que, até 2015, minoraria a situação nos países mais pobres.
Enquanto o plenário era abalado pelas notícias a respeito do recente tufão sobre as Filipinas, com mais de mil mortos e desaparecidos, uma pesquisa do Global Carbon Project dizia que, até o fim deste mês, as emissões globais no ano atingirão 35,6 bilhões de toneladas de carbono, 2,6% mais que em 2011 e 54% mais que em 1990. A continuarem nesse ritmo, a temperatura poderá subir 5 graus Celsius até o fim do século. Segundo lorde Nicholas Stern, para conter o aumento da temperatura do planeta em 2 graus até 2050 será preciso reduzir as emissões em 15 bilhões anuais de toneladas sobre o que seriam em 2030; se isso não acontecer, os países não industrializados emitirão de 37 bilhões a 38 bilhões de toneladas nesse ano (ou dois terços do total; emitiam um terço em 1990) e os industrializados, de 11 bilhões a 14 bilhões de toneladas. Já o Banco Mundial prevê uma tendência de a temperatura aumentar 3 graus até 2050.
Um dos nós do problema continua nos subsídios governamentais ao uso de combustíveis fósseis na geração de energia: US$ 523 bilhões em 2011, segundo a Climate Action Tracker, ou 30% mais que em 2010; enquanto isso, as energias renováveis e não poluentes tiveram US$ 88 bilhões de subsídios oficiais.
E, entre nós, os discursos continuam muito mais otimistas que as práticas: o governo federal utilizou este ano apenas 48% (R$ 2,1 bilhões, dos quais R$ 1,1 bilhão pago) das verbas previstas para evitar desastres climáticos (Estado, 3/12), embora o seu Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres já tenha emitido alertas de emergência em 407 municípios, por causa de seca ou chuvas. E apesar das previsões de "chuvas fortes" nos três meses a partir de dezembro.
Apesar dos fatos, das estatísticas, das pesquisas, continuamos a nos comportar como se tivéssemos prazos infinitos. Só que, como diz James Hansen, cientista da Nasa, "o futuro é agora; e ele é quente".
* Washington Novaes é jornalista.
Fonte: www.ihu.unisinos.br

REFLEXÃO

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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

PROFESSORA AMANDA GURGEL RECEBE DIPLOMA DE VEREADORA
http://pstu.org.br/nacional_materia.asp?id=14714&ida=0
O mandato ainda não começou, mas a professora Amanda Gurgel já mostrou como serão os quatro anos de um mandato revolucionário na Câmara de Vereadores de Natal. A diplomação dos vereadores e do prefeito eleitos foi marcada por protestos contra o reajuste salarial, que levará o salário dos vereadores para R$ 18 mil. 

Amanda Gurgel foi aplaudida e recebeu o seu diploma de punho erguido sob a palavra de ordem “Amanda, vereadora, professora, socialista e lutadora”.
O mandato ainda não começou, mas a professora Amanda Gurgel já mostrou como serão os quatro anos de um ma
ndato revolucionário na Câmara de Vereadores de Natal. A diplomação dos vereadores e do prefeito eleitos foi marcada por protestos contra o reajuste salarial, que levará o salário dos vereadores para R$ 18 mil.

Amanda Gurgel foi aplaudida e recebeu o seu diploma de punho erguido sob a palavra de ordem “Amanda, vereadora, professora, socialista e lutadora”.
CNTE marca greve nacional para abril de 2013
leao1
Durante o encontro do Conselho Nacional de Entidades, a CNTE definiu que realizará uma Semana Nacional da Educação em abril de 2013 que será focada na valorização dos profissionais em educação e também agendou uma greve de 3 dias. "Esta semana tradicionalmente se destina ao debate das questões educacionais e terá como prioridade o debate sindical da mobilização, mais um ano que estaremos lutando para que o piso salarial nacional seja efetivamente aplicado no nosso país com uma greve nacional nos dias 23,24 e 25 de abril", explica o presidente da CNTE, Roberto Leão.

Paulo Freire, grande mestre da educação

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Catequese de Bento XVI: Etapas da Revelação - 12/12/12

Boletim da Santa Sé
(Tradução: Jéssica Marçal, equipe CN Notícias)



CATEQUESE
Sala Paulo VI - Vaticano
Quarta-feira, 12 de dezembro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,

Na catequese passada falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus se insere no tempo e na história dos homens: história que transforma “o lugar no qual podemos constatar o agir de Deus a favor da humanidade. Ele chega até nós naquilo que para nós é mais familiar, e fácil de verificar, porque constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não seríamos capazes de entender” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12).

O Evangelista São Marcos – como ouvimos – relata, em termos claros e sintéticos, os momentos iniciais da pregação de Jesus “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Mc 1, 15). Isso que ilumina e dá sentido pleno à história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que logo contemplaremos no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus manifesta a sua face e pede a decisão do homem de reconhecê-Lo e de segui-Lo. O revelar-se na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, doa um novo sentido a todo o caminho humano. A história não é uma simples sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que doa pleno significado e a abre a uma sólida esperança.

Onde podemos ler as etapas desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o lugar privilegiado para descobrir os eventos deste caminho, e gostaria – mais uma vez – de convidar todos, neste Ano da Fé, a tomar mais em mãos a própria Bíblia para lê-la e meditá-la e a prestar mais atenção às Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé

Lendo o Antigo Testamento podemos ver como as intervenções de Deus na história do povo que foi escolhido e com o qual estabelece aliança não são fatos que passam e caem no esquecimento, mas tornam-se “memória”, constituem juntos a “história da salvação”, mantida vida na consciência do povo de Israel através da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor diz a Moisés para celebrar o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa hebraica, com estas palavras: “Este dia será para vós um memorial; o celebrais como festa do Senhor: de geração em geração o celebrais como um rito perene” (12, 14). Para todo o povo de Israel recordar isso que Deus fez torna-se uma espécie de imperativo constante, para que a passagem do tempo seja marcada pela memória viva dos eventos passados, que assim formam, dia a dia, de novo a história e permenecem presentes. No Livro do Deuteronômio, Moisés se dirige ao povo dizendo: “Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos” (4, 9).  E assim diz também a nós: “Cuides bem para não esquecer as coisas que Deus fez conosco”. A fé é alimentada pela descoberta e pela memória de Deus sempre fiel, que conduz a história e que constitui o fundamento seguro e estável sobre o qual construir a própria vida. Também o canto do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo altíssimo desta história da salvação, desta memória que faz e tem presente o agir de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto de seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isso é memória viva da presença divina que nunca falha (cfr Lc 1,46-55).

Para Israel, o Êxodo é o acontecimento histórico central no qual Deus revela a sua ação poderosa. Deus livra os israelitas da escravidão do Egito para que possam retornar à Terra Prometida e adorá-Lo como o único e verdadeiro Senhor. Israel não se coloca a caminho para ser um povo como os outros – para ter também ele uma independência nacional - , mas para servir Deus no culto e na vida, para criar para Deus um lugar onde o homem está em obediência a Ele, onde Deus é presente e adorado no mundo; e, naturalmente, não só para eles, mas para testemunhá-lo em meio aos outros povos. A celebração deste acontecimento é um torná-lo presente e atual, porque a obra de Deus não falha. Ele tem fé em seu desígnio de libertação e continua a persegui-lo, a fim de que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor à sua ação.

Deus também revela a Si próprio não somente no ato primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era nem o mais numeroso, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que segue na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que é a origem do mundo, encarnou-se em Jesus e mostrou a verdadeira face de Deus. Em Jesus se cumpre cada promessa, Nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a história dos dois discípulos no caminho de Emaús, narrada por São Lucas, vemos como emerge de modo claro que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação e mostra o grande desígnio unitário dos dois Testamentos, mostra a via da sua singularidade. Jesus, de fato, explica aos dois viajantes perdidos e desiludidos ser o cumprimento das promessas: “E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras” (24, 27). O Evangelista relata a exclamação dos dois discípulos depois de terem reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: “Não abrasava em nós o nosso coração enquanto Ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (v. 32).

O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina mostrando sinteticamente o desenvolvimento (cfr nn. 54-64): Deus convidou o homem desde o início a uma íntima comunhão consigo e mesmo quando o homem, pela própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o abandonou em poder da morte, mas ofereceu muitas vezes aos homens a sua aliança (cfr Missal Romano, Pregh. Euc. IV). O Catecismo traça o caminho de Deus com o homem a partir da aliança com Noé depois do dilúvio, ao chamado de Abraão a sair de sua terra para torná-lo pai de uma multidão de povos. Deus forma Israel como seu povo, através do acontecimento do Êxodo, a aliança do Sinai e a doação, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas Deus conduz o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos – através de Isaías – o “segundo Êxodo”, o retorno do exílio da Babilônia à própria terra, o restabelecimento do povo; ao mesmo tempo, porém, muitos permanecem na dispersão e assim começa a universalidade desta fé.  No final, não se espera mais somente um rei, Davi, um filho de Davi, mas um “Filho do homem”, a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre as culturas, primeiro com Babilônia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus se alarga, se abre sempre mais para o Mistério de Cristo, o Rei do universo. Em Cristo se realiza finalmente a Revelação na sua plenitude, o desígnio de benevolência de Deus: Ele próprio se faz um de nós.

Eu me concentrei em fazer memória do agir de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande desígnio de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único desígnio de salvação dirigido a toda a humanidade, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus sempre reage às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isto é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento que nos prepara para o Santo Natal. Como sabemos todos, o termo “Advento” significa “vinda”, “presença”, e antigamente indicava propriamente a chegada do rei ou do imperador em uma determinada província. Para nós cristãos a palavra indica uma realidade maravilhosa e perturbadora: o próprio Deus cruzou seu Céu e se inclinou sobre o homem; estabeleceu aliança com ele entrando na história de um povo; Ele é o rei que caiu nesta pobre província que é a terra e doou a nós sua visita assumindo a nossa carne, tornando-se homem como nós. O Advento nos convida a traçar o caminho desta presença e nos recorda sempre novamente que Deus não se retirou do mundo, não está ausente, não nos abandonou a nós mesmos, mas vem ao nosso encontro de diversos modos, que devemos aprender a discernir. E também nós com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias a decifrar e testemunhar esta presença no mundo frequentemente superficial e distraído, e a fazer brilhar na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado.



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Discurso do Papa: Comissão Teológica Internacional - 7/12/2012

Boletim da Santa Sé
(Tradução: Jéssica Marçal, equipe CN Notícias)



Discurso
Audiência com os membros da Comissão Teológica Internacional
Sala de Papas do Palácio Apostólico Vaticano
Sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


Venerados irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Ilustres professores e caros Colaboradores,

Com grande alegria vos acolho ao término de seus trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Saúdo de coração o vosso novo presidente, Dom Gerhard Ludwig Müller, a quem agradeço pelas palavras que me dirigiu em nome de todos, assim como o novo secretário geral, o padre Serge-Thomas Bonino.

A vossa sessão desenvolveu-se no contexto do Ano da Fé, e estou profundamente satisfeito pelo fato da Comissão Teológica Internacional ter desejado manifestar a sua adesão a este evento eclesial através de uma peregrinação à Basílica Papal de Santa Maria Maior, para confiar à Virgem Maria, praesidium fidei, os trabalhos da vossa Comissão e para rezar por todos aqueles que, no meio Eclesial, dedicam-se a fazer frutificar a inteligência da fé em benefício e alegria espiritual de todos os crentes. Obrigado por este gesto extraordinário. Exprimo apreço pela mensagem que os senhores escreveram em ocasião deste Ano da Fé. Isso ilustra bem o modo específico no qual os teólogos, servindo fielmente à verdade da fé, podem participar do esforço evangelizador da Igreja.

Esta mensagem retoma os temas que os senhores desenvolveram mais amplamente no documento “A teologia hoje. Perspectivas, princípios e critérios”, publicado no início deste ano. Tomando nota da vitalidade e da variedade da teologia depois do Concílio Vaticano II, este documento pretende apresentar, por assim dizer, o código genético da teologia católica, isso é, princípios que definem a sua própria identidade e, por consequência, garantem a sua unidade na diversidade das suas realizações. Para este efeito, o texto esclarece os critérios para uma teologia autenticamente católica e, portanto, capaz de contribuir com a missão da Igreja, com o anúncio do Evangelho a todos os homens. Em um contexto cultural em que alguns são tentados ou a privar a teologia de um estatuto acadêmico, por causa de sua ligação intrínseca com a fé, ou de prescindir da dimensão crente e confessional da teologia, com o risco de confundi-la e de reduzi-la às ciências religiosas, o vosso documento recorda oportunamente que a teologia é inseparavelmente confessional e racional e que a sua presença dentro da instituição universitária garante, ou deveria garantir, uma visão ampla e integral da própria razão humana.

Entre os critérios da teologia católica, o documento menciona a atenção que os teólogos devem reservar ao sensus fidelium. É muito útil que a vossa comissão esteja concentrada também sobre este tema que é de particular importância para a reflexão sobre a fé e para a vida da Igreja. O Concílio Vaticano II, enfatizando o papel específico e insubstituível que cabe ao Magistério, salientou, no entanto, que todo o Povo de Deus participa na função profética de Cristo, realizando assim o desejo inspirado, expresso por Moisés: “Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!” (Nm 11,29). A Constituição dogmática Lumen gentium ensina sobre: “A totalidade dos fiéis, tendo a unção que vem do Santo (cfr 1 Jo 2,20.27), não pode enganar-se no crer, e manifesta esta sua propriedade mediante o sentido sobrenatural da fé de todo o povo, quando desde os bispos até os últimos fiéis leigos mostra universal seu consenso em matéria de fé e de moral” (n. 12). Este dom, o sensus fidei, constitui no crente uma espécie de instinto sobrenatural, que tem uma conaturalidade vital com o mesmo objeto da fé. Observamos que propriamente os simples fiéis carregam em si esta certeza, esta segurança do sentido da fé. O sensus fidei é um critério para discernir se uma verdade pertence ou não ao depósito vivo da tradição apostólica. Tem também um valor propositivo porque o Espírito Santo não para de falar à Igreja e de conduzi-la para a verdade inteira. Hoje, no entanto, é particularmente importante especificar os critérios que permitem distinguir o sensus fidelium autêntico das suas imitações. Na realidade, isso não é uma espécie de opinião pública eclesial, e é impensável podê-lo mencionar para desafiar os ensinamentos do Magistério, porque o sensus fidei não pode desenvolver-se autenticamente no crente se não na medida em que ele participa plenamente na vida da Igreja, e isso exige adesão responsável ao seu magistério, ao depósito da fé.

Hoje, este mesmo sentido sobrenatural da fé dos crentes leva a reagir com vigor também contra o preconceito segundo o qual as religiões, e em particular as religiões monoteístas, seriam intrinsecamente portadores de violência, sobretudo por causa do argumento de que elas têm a pretensão da existência de uma verdade universal. Alguns acreditam que apenas o “politeísmo de valores” garantiria a tolerância e a paz civil seria conforme o espírito de uma sociedade democrática pluralista. Nesta direção, o vosso estudo sobre o tema “Deus Trino, unidade dos homens. Cristianismo e monoteísmo” é de viva atualidade. Por um lado, é essencial lembrar que a fé no Deus único, Criador do céu e da terra, atende às exigências racionais da reflexão metafísica, a qual não é enfraquecida, mas reforçada e aprofundada na Revelação do Mistério de Deus-Trino. Por outro lado, é necessário salientar a forma que a Revelação definitiva do mistério do único Deus toma na vida e morte de Jesus Cristo, que vai ao encontro da Cruz como “cordeiro conduzido ao matadouro” (Is 53,7). O Senhor dá testemunho a uma rejeição radical de cada forma de ódio e violência em favor do primado absoluto da ágape. Se, portanto, na história, houve ou há formas de violência feita em nome de Deus, estas não são atribuídas ao monoteísmo, mas às causas históricas, principalmente aos erros dos homens. Pelo contrário, é o próprio esquecimento de Deus que imerge as sociedades humanas em uma forma de relativismo, que gera inevitavelmente a violência. Quando se nega a possibilidade para todos de referir-se a uma verdade objetiva, o diálogo transforma-se impossível e a violência, declarada ou oculta, torna-se a regra dos relacionamentos humanos. Sem a abertura ao transcendente, que permite encontrar as respostas às perguntas sobre o sentido da vida e sobre a maneira de viver de modo moral, sem esta abertura o homem torna-se incapaz de agir segundo a justiça e de empenhar-se pela paz.

Se o fracasso do relacionamento dos homens com Deus traz em si um desequilíbrio profundo nas relações entre os próprios homens, a reconciliação com Deus, feita pela Cruz de Cristo, “nossa paz” (Ef 2,14), é a fonte fundamental da unidade e da fraternidade. Nesta perspectiva, coloca-se também a vossa reflexão sobre o terceiro tema, aquele da doutrina social da Igreja no contexto da doutrina da fé. Essa confirma que a doutrina social não é uma adição extrínseca, mas, sem esquecer a contribuição de uma filosofia social, recebe os seus princípios básicos nas próprias fontes da fé. Tal doutrina procura tornar efetivo, na grande diversidade das situações sociais, o mandamento novo que o Senhor Jesus nos deixou: “Como eu vos amei, assim amais também vós uns aos outros” (Jo 13, 34).

Rezemos à Virgem Imaculada, modelo de quem escuta e medita a Palavra de Deus, que vós recebais a graça de servir sempre alegremente a inteligência da fé em favor de toda a Igreja. Renovando a expressão da minha profunda gratidão pelo vosso serviço eclesial, asseguro-vos a minha constante proximidade na oração e concedo de coração a todos vós a Benção Apostólica.