sábado, 13 de outubro de 2012

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Ano da Fé


Cidade do Vaticano (RV) -* O Papa Bento XVI, sabiamente, instala nas comemorações da abertura do Cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II e o vigésimo ano do Catecismo da Igreja Católica o “ANO DA FÉ”. Este evento será celebrado de 11 de outubro de 2012 a 24 de novembro de 2013. É mais uma oportunidade para que os católicos voltem um olhar mais apurado aos valores das doutrinas, revendo os Documentos do Concílio e as orientações presentes no Catecismo da Igreja Católica. É um excelente período para o conhecimento dos valores presentes no depósito da fé. A primeira vez que foi proclamado o “Ano da Fé” foi em 1967, instalado pelo Servo de Deus Papa Paulo VI, por ocasião do décimo nono aniversário do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo.

É importante refletir sobre a necessidade de construir a fé nos ambientes onde o absolutismo toma conta, lá onde as pessoas perderam as esperanças, contaminadas por uma cultura laxista e indiferente. Ver-se-á, então, que a fé vem reforçar os laços humanos e com Deus para reconstruir a humanidade muitas vezes desorientada pelo abandono dos valores ensinados por Jesus Cristo.

O Papa Bento XVI chama a atenção dos cristãos: têm “maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. (Porta Fidei, 2). Ele lembra também que onde a fé é viva, a cultura cristã não se torna passado.

Trata-se de se recuperar um olhar para a “fé de sempre” e transmiti-la para as gerações futuras. Por isso, acontece neste mês em Roma o Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã. Na História da Igreja, os Papas sempre exortaram o rebanho de Cristo com Decretos, Bulas, Cartas Apostólicas, Encíclicas e Mensagens para que os católicos alimentem cada vez mais a fé e a transmitam aos outros pelo ensinamento e pelo testemunho. É por isto que o Papa Bento XVI instala com um Decreto – Porta Fidei – este “Ano da Fé”.
As orientações da Congregação para a Doutrina da Fé colocam que ente as atividades mundiais para se viver neste “ano da fé” é a Jornada Mundial da Juventude, que teremos a alegria de acolher em nosso país e em nossa cidade.

Na ocasião da celebração do “Ano da Fé”, o Papa convida para que os católicos recebam a Indulgência Plenária, conforme orientações do seu Decreto. Veja abaixo alguns elementos dessa orientação papal:
Ao longo de todo o Ano da Fé, proclamado de 11 de outubro de 2012 até o fim do dia 24 de novembro de 2013, poderão alcançar a Indulgência Plenária da pena temporal para os próprios pecados, concedida pela misericórdia de Deus, aplicável em sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, a todos os fiéis deveras arrependidos, que se confessem de modo devido, comunguem sacramentalmente e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice:

A) Cada vez que participarem em pelo menos três momentos de pregações durante as Missões Sagradas, ou então em pelo menos três lições sobre as Atas do Concílio Vaticano II e sobre os Artigos do Catecismo da Igreja Católica, em qualquer igreja ou lugar idóneo;
B) Cada vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, uma catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um lugar sagrado, designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. entre as Basílicas Menores e os Santuários dedicados à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Santos Apóstolos e aos Santos Padroeiros) e ali participarem nalguma função sagrada ou pelo menos passarem um tempo côngruo de recolhimento com meditações piedosas, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima, as invocações à Bem-Aventurada Virgem Maria e, segundo o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;

C) Cada vez que, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. nas solenidades do Senhor, da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas festas dos Santos Apóstolos e Padroeiros, na Cátedra de São Pedro), em qualquer lugar sagrado, participarem numa solene celebração eucarística ou na liturgia das horas, acrescentando a Profissão de Fé de qualquer forma legítima;
D) Um dia livremente escolhido, durante o Ano da fé, para a visita piedosa do batistério ou outro lugar, onde receberam o sacramento do Batismo, se renovarem as promessas batismais com qualquer fórmula legítima.

Os Bispos diocesanos ou eparquiais, e aqueles que pelo direito lhes são equiparados, no dia mais oportuno deste tempo, por ocasião da celebração principal (por ex. a 24 de novembro de 2013, na solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual será encerrado o Ano da fé) poderão conceder a Bênção Papal com a Indulgência Plenária, lucrável por parte de todos os fiéis que receberem tal Bênção de modo devoto.

Os fiéis verdadeiramente arrependidos, que não puderem participar nas celebrações solenes por motivos graves (como, em primeiro lugar, todas as monjas que vivem nos mosteiros de clausura perpétua, os anacoretas e os eremitas, os encarcerados, os idosos, os enfermos, assim como quantos, no hospital ou noutros lugares de cura, prestam serviço continuado aos doentes), obterão a Indulgência Plenária nas mesmas condições se, unidos com o espírito e o pensamento aos fiéis presentes, particularmente nos momentos em que as palavras do Sumo Pontífice ou dos Bispos diocesanos forem transmitidas pela televisão e rádio, recitarem em casa ou onde o impedimento os detiver (por ex. na capela do mosteiro, do hospital, da casa de cura, da prisão...) o Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima e outras preces segundo as finalidades do Ano da fé, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida.

Em nossa arquidiocese, os Santuários e Basílicas já foram escolhidos e divulgados, assim como as solenidades e eventos desse Ano da Fé. Além disso, a cada mês iremos aprofundar alguns aspectos que notamos necessitarem de esclarecimentos e estudos entre o nosso povo. Tanto conferências como reflexões, textos, homilias terão oportunidade de esclarecer as pessoas sobre a nossa fé e suas razões. Eis que se abre um tempo favorável para viver e aprofundar a fé. Aproveitemos, portanto, desse tempo propício.

Assim, caríssimos, temos ali presente esta oportunidade de rever como vivemos os valores aprendidos desde nossa infância, e como são reproduzidos e testemunhados nos dias de hoje. Chegou o momento de reforçar em nós a fé e anunciar a boa notícia aos irmãos. Coragem e fé! Deus os abençoe!

† Orani João Tempesta, O. Cist.*
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

28º Domingo do Tempo Comum - Reflexão dominical



A literatura deste 28º domingo do Tempo Comum e 2º domingo do mês missionário nos proporciona a reflexão sobre os verdadeiros valores que devem nortear a nossa vida cristã. Temos a nosso favor a Palavra proclamada e a Eucaristia: seu Corpo compartilhado. Nelas Deus põe à nossa disposição todo o seu ser.
1ª leitura (Sb 7,7-11)
          Segundo a narração bíblica, o rei Salomão teve um sonho: podia pedir o que desejasse e lhe seria concedido.
          Teria ele pedido ouro, saúde, poder, força, ou mesmo o mal para algum possível inimigo seu? Nada disso, mas, ao invés e tão somente ele disse a Deus: “eu não passo de um adolescente, não sei como governar um povo tão numeroso. Dai, pois, ao vosso servo, ó Senhor, a sabedoria, um coração sábio, capaz de discernir entre o bem e o mal” (I Rs 3,4-15).
          É essa, portanto, a reflexão sobre a escolha feita por Salomão, oferecida pela primeira leitura. É admirável o discernimento do rei sábio, entre escolher a sabedoria de Deus e qualquer outro bem. Todos os tesouros e qualquer outro bem, relacionado com a sabedoria são como lama. Sua primeira e grande preocupação não é outra, mas viver e governar a partir da justiça. E foi isso que, de maneira humilde e confiante, ele pediu a Deus e terminou sendo contemplado de maneira generosíssima.
          A sabedoria como dom do Espírito Santo, nos possibilita orientar a nossa vida segundo os intuitos divinos.
Dai-nos, ó Espírito Santo, os dons da inteligência e sabedoria.  Dom de entender e saborear os mistérios divinos...
E o mais importante, é que Jesus constatou que a sabedoria divina é revelada de modo especial entre os de mente e coração abertos, os pequenos e os pobres e é ocultada aos grandes e “inteligentes” deste mundo (Mt 11, 25-26).
Evangelho (Mc 10,17-30)
Talvez não fosse demais, fazer aqui e daqui de onde estamos a seguinte interrogação: O que e como fazer para ser feliz? Contextualizando o trecho bíblico colocado à reflexão, está o Mestre e seus discípulos a caminho de Jerusalém. A finalidade que tem essa e outras viagens realizadas por Jesus, o timoneiro da paz, é a de cunho pedagógica. Como não explicar aos seus seguidores a relação e, consequentemente, o devido cuidado que eles devem ter com os bens materiais, mostrando assim a conduta que eles precisam demonstrar na hora de segui-lo.
Hoje nos deparamos com uma exigência não menos inferior a tantas outras já feitas por Jesus. Dessa feita, trata-se da coragem de desprender-se dos próprios bens. Aliás, é condição para o seguimento ser discípulo missionário a Jesus de Nazaré.
Concretamente, trata-se de um jovem rico que, num certo dia se apresenta e lhe pergunta: “Bom Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?”
No mínimo deve ser um israelita piedoso que sabe que tudo se recebe de Deus “como herança”: a terra (Sl 135,12), a lei (Sl 119, 111), a bênção, as promessas (Hb 6,12), o Reino de Deus (Mt 25,34). Ele só não sabia que nada é concedido como prêmio pelas boas ações. Tudo é dom.
O rapaz demonstra que estava ansioso por encontrar-se com Jesus, o “bom Mestre” para, no mínimo, ser justificado em sua mentalidade e em suas atitudes “ingênuas”. Jesus, porém, não hesitou em desarmá-lo por perceber uma intenção bajuladora: “Ninguém é bom a não ser Deus”.
Um detalhe entre tantos é que no encontro com Jesus é determinante para estar com ele, a superação das prescrições legalistas. O jovem é interpelado a fazer uma retrospectiva dos mandamentos; aliás, ele diz que conhece a todos: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude” (v. 20). O interesse do interpelante é quanto à justiça social: respeito à vida. Deus, portanto, nada pede para si; fazendo para os próximos, fazemos a Ele.
Mais um pormenor: parece tratar-se de um rico. E, esse, tem consciência de não haver cometido injustiças ao acumular riquezas; no final das contas, tudo é consequência das bênçãos divinas. Ora, Jesus comprova que não basta ter feito nada de mal, não basta ter observado, pedagogicamente, os mandamentos, mas exige uma doação total: “Só uma coisa lhe falta: vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha e siga-me!” (v. 21). A reação do rico evidencia claramente como as riquezas são obstáculos no caminho do Reino (cf. vv. 22-25).
“Será que o rico se salvará?” Jesus ao ouvir a resposta do jovem rico, “fixou nele o olhar e o amou”. Que olhar misericordioso! Não obstante o estado emocional do jovem, Jesus percebe nele possibilidades para avançar, por isso lança a proposta: “Vai, vende tudo o que tens e distribui aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (v. 21).
Não é possível tornar-se discípulo seu se o coração não estiver desprendido de tudo o que se possui: sucesso, objetos, honras, e tantas outras mazelas.
Na segunda parte (vv. 23-27) nos relata as considerações de Jesus sobre os perigos das riquezas. Estas constituem o obstáculo mais grave que impede alguém ser promovido a cristão: “É mais fácil – ensina Jesus – passar o camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar o rico no Reino de Deus.”
“Então, quem pode ser salvo?” Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível”. Pedro então começou a dizer-lhe: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. Aos discípulos que deixam tudo para segui-lo, Jesus lhes garante que usufruirão dos benefícios do Reino de Deus.
Um convite a todos nós: Todos estamos convidados por Jesus a desvencilharmo-nos da escravidão do ter para tornarmo-nos instrumentos de um novo mundo. Esse, sem sombra de dúvida, é o jeito sábio de viver.
Segunda leitura (Hb 4,12-13)
          Dizem ser possível, às vezes, alguns responsáveis pelo comentário sobre as leituras, mas, também outros comunicadores da Palavra, o próprio padre, por exemplo, por não está bem preparado, começa a divagar.
          A leitura de hoje nos ensina que a Palavra de Deus é muito diferente dessas divagações. Ela tem cinco características: a) Ela é “viva e eficaz”; b) A Palavra de Deus, além disso, é “cortante e penetrante” mais do que uma espada afiada, rija, inflexível: penetra até o âmago de quem a escuta; c) Por fim, é também “juiz” de todas as nossas ações.
          Se alguém disser que ao ouvir a Palavra, ele ficou sossegado, tranquilo e calmo, esta certamente não foi Palavra de Deus, foi sim, pluma que acaricia orelhas, ou dosagem de anestésico (algo que suprime a sensibilidade da consciência).
Concluindo:
          - Se queremos ser discípulos missionários do Senhor, procuremos viver sabiamente o que vem de Deus. Sábio é aquele (a) que se esforça a fazer o bem a qualquer um (a).
          - Como se adquire a sabedoria? A sabedoria se adquire e se cultiva pela oração e pela meditação da Palavra de Deus.
          - Peregrino, o serei sempre. Serei, seremos sempre peregrinos neste mundo (casa de Deus), em caminhada para a terra prometida. Mas com a Palavra de Deus nos orientando, nos iluminando; sem ela, nos desorientamos levados por tantas outras “palavras” que pessoas e mundo nos oferecem.
Pe. Francisco de Assis Inácio
Pároco de Nova Cruz - RN
“Tropicália”: O passado no presente
12/10/2012
Miguel Pereira*





As primeiras imagens de Tropicália, documentário de Marcelo Machado, mostram Caetano Veloso, em 1969, num programa da televisão portuguesa, afirmando que o movimento do tropicalismo tinha acabado. Ele e Gilberto Gil estavam a caminho do exílio, em Londres, depois de passarem pela prisão e pelo confinamento impostos pela ditadura militar. Diante de tal violência e cerceamento à criação artística, tomaram, a contragosto, o caminho possível da sobrevivência. Não fazia mais sentido algum continuar fora do país um movimento surgido num caldo cultural brasileiro. Significa dizer que o Tropicalismo foi também vítima da ditadura militar. O filme faz uma espécie de recomposição histórica, tentando estabelecer conexões entre a quebra de padrões musicais, promovida pelos baianos, em São Paulo, de 1967 ao final de 1968, e o contexto político e cultural daqueles anos. O sentido das imagens de arquivo e os depoimentos são uma evidente evocação à Semana de Arte Moderna de 1922. Marcelo Machado constrói seu discurso cinematográfico através de parâmetros alusivos a outros momentos da história cultural brasileira onde a ruptura foi o procedimento inovador. O foco é certamente São Paulo, e, de algum modo, fica implícito que o tropicalismo está associado à capital industrial brasileira.

Já as últimas cenas do filme são imagens de arquivo que registraram o retorno do exílio dos baianos à terra natal e a festa em sua homenagem. O mais interessante desse momento da narrativa é a forma com que Caetano e Gil olham essas imagens do passado e cantarolam as próprias melodias. O sentimento não é de nostalgia. Expressam uma jubilosa e verdadeira alegria. A conjugação entre passado e presente não carrega qualquer tipo de ônus ou ressentimento, culpas ou denúncias políticas. Apenas celebram o momento vivido. É o prazer e o gosto de ser no mundo. Se algo justifica o filme de Marcelo Machado é essa capacidade de tornar o passado presente, sem culpas ou determinações históricas. O vivido vale em si. O que se vai viver bebe no vivido, sem antolhos. Essa liberdade é o leitmotiv do documentário. O que talvez destoe um pouco é a forma ¨moderninha¨ de sua narrativa. Intervenções nas imagens de época, alguns efeitos digitais e sonoros, enfim, o uso das tecnologias contemporâneas nem sempre se somam à expressividade da linguagem. Viram adornos que distraem do essencial. Não se trata de cobrir eventuais deficiências das imagens originais. É mesmo uma tentativa de estilo, válida em si, mas pouco eficiente na forma de narrar. O contraponto das imagens de Caetano e Gil que vêem o que não vemos, mas ouvem o que ouvimos, diz tudo daquele sentimento impresso na imagem. A natureza do cinema é mesmo a sua verdade de que a imagem imanta de forma encantatória. Quando isso ocorre, todo o resto é dispensável. Apesar desse apelo estilístico um tanto errático, o filme consegue uma eficiente comunicação com o seu público.

Tropicália é assim um documentário musical, moda que parece estar em voga, que nos remete ao tempo presente, embora falando do passado.

* Professor da PUC-Rio e crítico de cinema (fonte: Arq. do RJ)
Mensagem do dia
 
Sábado, 13 de outubro 2012
Não frustremos os sonhos de Deus A partir de Pentecostes a Igreja expressa uma vitalidade divina, que se manifesta com os dons carismáticos. Nós precisamos dessa vitalidade. É a realização da profecia de Ezequiel, que vê primeiramente ossos ressequidos, mas o Senhor lhe diz que profira um oráculo sobre eles, faça entrar o sopro da vida e profetize ao espírito (confira Ezequiel 37, 1-14). A Palavra diz que se levanta um grande exército desses ossos. Este é o desejo de Deus: transformar-nos em um grande exército. É isso que o Senhor quer e nós também precisamos querer.

Mas ainda é tempo de levarmos a sério o novo Pentecostes. Deus é irrevogável nos dons d’Ele e este é o grande dom para a Igreja. Não fiquemos parados nas águas passadas, águas sujas, águas putrefatas.

Agora cabe a nós tomarmos posse dessa graça. É agora, é o tempo de Kairós que está sobre nós. Não podemos ficar presos ao passado vendo as decepções, os erros, etc., nós não podemos frustrar os sonhos de Deus. Através desses dons divinos, a Igreja propaga o ministério salvífico do Senhor.

O nosso Pai conta conosco!

Deus o abençoe!

Monsenhor Jonas Abib
Fundador da Comunidade Canção Nova

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Presentes recíprocos - Artigo para O Globo, 6 de outubro de 2012.

*Cristovam Buarque
Os historiadores terão dificuldades para explicar como foi possível a sociedade brasileira desprezar tanto suas crianças.
Como foi possível a sexta economia do mundo não ser capaz de cuidar decente e competentemente de suas crianças, deixando milhões delas fora da pré-escola, sabendo que centenas de milhares de mães são obrigadas a deixar seus filhos na primeira infância sob os cuidados de outros filhos, às vezes com 10 anos de idade, retirados da escola para este trabalho.         
Por que esta rica sociedade ainda tem fora da escola 3,5 milhões dos seus 50 milhões em idade escolar? E aqueles matriculados que, em sua grande maioria não frequentam, não assistem, não permanecem na escola e não aprendem? Por que apenas 40% terminam o ensino médio, e em cursos sem qualificação? Como foi possível tratar tão desigual a infância conforme a renda dos pais? E como explicar, que em pleno século XXI, centenas de milhares de meninos e meninas fiquem nas ruas do Brasil e cerca de 100 mil submetidos à exploração sexual? E como será possível explicar daqui a 20 anos, que nos últimos 20, pelo menos 10 mil crianças tenham sido assassinadas, uma média de 14 por dia?
Os historiadores ficarão perplexos quando descobrirem que esse quadro persiste, apesar de o Brasil comemorar o Dia da Criança, em 12 de outubro, desde 1924.
Alguns historiadores dirão que o maltrato e o abandono são lendas criadas sobre o passado. Outros darão explicações culturais: o imaginário egoísta e imprevidente da população brasileira, com alta preferência sobre o consumo material no presente, um povo que não respeita a atividade intelectual nem considera riqueza o acúmulo de conhecimento. Outros se limitarão a dizer que a sociedade dividida por uma histórica apartação social cuidava dos poucos filhos da minoria rica, deixando de lado as massas de crianças, filhas de pobres.
Os historiadores terão dificuldades em explicar a indecência do abandono e estupidez, o sacrifício do maior potencial que uma sociedade dispõe: seu futuro, sob a forma de sua infância.
Mas uma coisa os historiadores terão de reconhecer: o quadro de violência, ineficiência, corrupção, desigualdade e atraso civilizatório em 2012 decorrem da forma como foram tratadas as crianças de antes.
O Brasil de hoje é o país construído pelas crianças de ontem; e o Brasil de amanhã tem a cara da maneira como tratamos nossas crianças de hoje.
Se quisermos um bom futuro para o Brasil, é preciso cuidar das crianças do presente, de uma maneira diferente daquela do passado. Como diz a ex-senadora Heloisa Helena: “O Brasil precisa adotar uma geração de suas crianças, do pré-natal ao final do ensino médio de qualidade para todos”. Essas crianças adotadas hoje adotarão o Brasil amanhã. O futuro do Brasil seria os cuidados delas para com o país, uma retribuição espontânea do que receberam no passado.
*Cristovam Buarque é professor na UnB e senador pelo PDT-DF.

Brasil corre risco de não cumprir meta de erradicar trabalho infantil, diz diretor adjunto da OIT

11/10/2012 17:47,  Por Agência Brasil
Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Brasil precisa intensificar as ações para coibir a exploração da mão de obra de crianças e adolescentes ou não conseguirá honrar o compromisso de erradicar as piores forma de trabalho infantil até 2016. O alerta foi dado pelo diretor adjunto do Programa Internacional para Erradicação do Trabalho Infantil (Ipec), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Geir Myrstad, durante o encerramento do Seminário Trabalho Infantil, Aprendizagem e Justiça do Trabalho, hoje (11).
Myrstad apresentou dados referentes ao trabalho infantil no mundo que mostram que 215 milhões de crianças são vítimas desse tipo de exploração. De acordo com a OIT, entre 2000 e 2004 houve uma diminuição de 10% no número de crianças e adolescentes vítimas do trabalho infantil. Entre 2004 e 2008, este percentual caiu para 3%, mesmo índice apresentado pelo Brasil. “Se o ritmo não aumentar, o Brasil não conseguirá erradicar as piores formas de trabalho infantil em 2016”, disse.
A OIT definiu, em 1999, o trabalho escravo ou análogo à escravidão (tais como venda ou tráfico, cativeiro ou sujeição por dívida, servidão); a exploração sexual de crianças e adolescentes; o recrutamento para  atividades ilícitas (particularmente para a produção e tráfico de drogas) e o recrutamento de crianças e adolescentes em conflitos armados como as piores formas de trabalho infantil.
Para Myrstad, o Brasil ainda tem condições de atingir a meta acordada com a OIT. Para que o país consiga honrar o compromisso, ele recomendou a intensificação das ações de fiscalização, a expansão do acesso a programas de qualificação profissional, principalmente para adolescentes de baixa renda de centros urbanos e áreas rurais.
Apesar da crítica, o representante da OIT disse que o país está no caminho certo. Ele elogiou o que chamou de “políticas de erradicação da pobreza e exclusão social e universalização do acesso à educação”. Myrstad também citou a articulação entre governo, ONGs, sindicatos, associações comerciais, Legislativo e Judiciário voltada para promover os direitos de crianças e adolescentes.
“Entre todos os países onde a OIT desenvolve projetos, o Brasil é o mais exitoso. A existência de uma estrutura jurídica voltada especificamente para guardar os direitos de crianças e adolescentes é uma vantagem”, disse.
O seminário, que reuniu especialista no tema, auditores fiscais do trabalho, magistrados e acadêmicos, foi encerrado pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro João Oreste Dalazen, que conclamou a sociedade brasileira para lutar pela erradicação do trabalho infantil.
O presidente destacou o compromisso assumido pelo Brasil perante a comunidade internacional de erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016, e todas as formas até 2020, o que, “exige planejamento, articulação e ações estratégicas”.
Ao final, Dalazen apresentou aos participantes do evento a Carta de Brasília pela Erradicação do Trabalho Infantil.  A carta afirma a competência material da Justiça do Trabalho para analisar pedidos de autorização para o trabalho de crianças e adolescentes e contesta os projetos de Emenda Constitucional nº 18 e nº 35, de 2011, que propõem a redução da idade mínima de trabalho para 14 anos, posição considerada “inaceitável retrocesso social”.
A importância do instrumento da aprendizagem para a capacitação e profissionalização do jovem trabalhador também é enfatizada no documento, que foi aprovado por aclamação pelos participantes do seminário.
Edição: Fábio Massalli

À distância se enxerga melhor?


Dom Aloísio Roque Oppermann, scj
Arcebispo Emérito de Uberaba / MG
As avaliações sobre a importância do Concílio Vaticano II vão desde a glorificação exaltada, até a hostilização mais mal humorada. Isso acontece por sintonizarmos a retomada de suas grandes idéias no cinqüentenário de seu início (11 de outubro de 1962). Os Padres Conciliares, em número aproximado de 2.500 na média, viram esse maravilhoso acontecimento eclesial, em centenas de visões diversificadas.
A grande maioria viu seu espírito numa linha de continuidade com a história da Igreja.  Mas alguns quiseram ver nele uma ruptura com a fé milenar dos discípulos de Cristo, e até uma compactuação com a mentalidade secularizada do mundo moderno. Vamos tentar dar um pequeno apanhado de suas linhas fundamentais, cujos conceitos apelam para um aprofundamento neste ano da Fé, que inicia neste mês (10/12).

A definição (ou descrição) de Igreja jamais foi tão ampla e  completa. Nem Santo Tomás de Aquino, nem Santo Agostinho alcançaram tais alturas, atingidas pelo Concílio, (sem os Padres esquecer as Escrituras). Agora existe a convicção de que todos somos Igreja, e não só o clero.

A Reforma Litúrgica conseguiu ultrapassar séculos de passividade, para levar o povo a uma participação ativa e frutuosa, sobretudo na Eucaristia. As celebrações se tornaram mais vivas e compreensíveis.

Em que pese nossa boa e velha Tradição, o Concílio nos levou a um renovado amor ás Escrituras Sagradas. Elas voltaram a ser a “alma de toda a teologia”. Hoje até na Catequese elas voltaram a ser prioritárias.

Os Padres Conciliares nos levaram a uma grande redescoberta da Patrística. Os escritos dos primeiros quatro séculos foram traduzidos para as línguas modernas, e todos podem buscar o elo que liga os ensinamentos dos apóstolos aos tempos modernos.

O enfoque das relações Igreja x Mundo foi deslocado. Agora não se trabalha mais, considerando o mundo como um grande inimigo, mas se procura dialogar. Isso é um benefício recíproco.

Houve um esforço, nem sempre bem sucedido, de aproximação com os cristãos de outras denominações. Mas as relações melhoraram, apesar de haver um longo caminho a percorrer. Um dia a oração de Cristo será eficaz, e “seremos todos um”  ( Jo 17, 11).