terça-feira, 4 de setembro de 2012

Legado do Concílio
26/01/2011
Cardeal Eugenio de Araujo Sales - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de JaneiroA+a-ImprimirAdicione aos FavoritosRSSEnvie para um amigo
Há cinco décadas realizou-se o Concílio Ecumênico Vaticano II. Fica a interrogação: qual o seu legado? Suas diretrizes estão sendo postas em prática?

Em comentário anterior, buscamos ver o relacionamento Igreja-mundo. Hoje, os frutos, no interior da própria obra instituída por Cristo.

Sem modificar absolutamente nada do que constitui sua identidade – nem podia ser de outra forma! – foram introduzidas alterações de grande e benéfica repercussão na vida dos fiéis. Podemos comparar com um rejuvenescimento.

Antes, a Igreja se apresentava preponderantemente como uma sociedade de estrutura vertical. A partir das decisões do Vaticano II, sob as luzes do Espírito Santo, desencadeou-se um profundo e constante processo de comunhão e participação em todos os níveis da vida cristã. Perdura a estrutura existente, mas surgiu uma nova consciência: todo batizado efetivamente a força redentora de Jesus. Como diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão do Cristo” (Cl 1,24).

A Constituição “Lumen Gentium”, fazendo eco a documentos mais antigos, nos lembra que todos os fiéis se integram no sacerdócio santificador de Cristo. Esta visão da realidade eclesial tem igualmente uma estrutura hierárquica. Por vontade do Fundador, cada cristão recebe parte do seu poder redentor, sem que a comunidade se transforme em massa amorfa, em aglomerado anônimo. Há um corpo orgânico que se assemelha a uma família bem constituída. A dignidade de cada filho, pequeno ou crescido, em nada enfraquece a autoridade específica dos pais. Pelo contrário, confirma-a, em sua plena dimensão. Na instituição fundada por Cristo, a atuação do leigo não diminui o insubstituível ofício do Pastor que, em nome do Senhor, é o guia de uma sociedade participativa. O Bispo exerce sua múmus, não por deputação dos fiéis mas em nome de Jesus que a outorga. Por isso, não se podem comparara o governante civil, os dirigentes políticos com a função dos Sucessores dos Apóstolos. O cristão deve ver nos Pastores o dom do amor redentor de Jesus a seu rebanho: “Quem vos ouve é a mim que ouve” (Lc 10,16) é “A quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,23).

Hoje são múltiplas as formas de trabalho dos leigos nas paróquias e dioceses. Sabem-se corresponsáveis não somente em atividades internas, como a catequese, mas também na ação junto ao mundo: atividade social, nos meios de comunicação, nos campos educacional e ecumênico. Antes do Concílio já existiam, mas com exceções ou em nível não-oficial. Hoje, é comum perceber esse novo procedimento. São membros ativos da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. Das celebrações, todos tomam parte, embora em grau diverso; vários ministérios, de forma extraordinária, não são exclusivos dos ministros sacros; na elaboração do planejamento pastoral é ampla a cooperação.

A introdução da língua vernácula na Liturgia foi, sem dúvida, fator importante de maior integração entre os diferentes níveis que formam o Povo de Deus.

O Vaticano II trouxe uma preciosa modificação no relacionamento entre a Igreja Católica e as demais religiões. Recebeu valioso incentivo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, uma nova perspectiva em relação aos Judeus. Parte da preservação da identidade, para abrir-se aos que têm outras crenças. O resultado, embora lento, é indiscutível. Grandes problemas da Humanidade, como a busca da paz, hoje são abordados dentro de uma convivência cordial. O respeito mútuo permite o esforço sincero e leal em benefício dos povos. As reuniões ocorridas em Assis, promovidas pelo Santo Padre e com a presença de líderes religiosos os mais diversos, são a prova desse bom êxito do Concílio.

O reconhecimento amplo e claro da liberdade de consciência suprimiu áreas de estéril atrito. Reafirma o Concílio a verdade única, o dever de buscá-la com afinco, mas não agride a convicção dos demais filhos de Deus. Para nós, a Igreja Católica é a única fundada por Jesus Cristo, mas o Vaticano II proclama que há nas diversas confissões cristãs elementos verdadeiros da herança cristã (“Lumem Gentium”, nº 15) e naqueles que, sem culpa, não conhecem Jesus Cristo, existem “sementes do Verbo” de Deus (Decreto “Ad Gentes”, nº 11).

Os meios de comunicação social mereceram, com justiça, uma atenção especial. O documento “Inter Mirifica”, com as subsequentes Instruções “Communio et Progressio” e a mais recente, “Aetatis Novae”, revelam uma mudança de atitudes, enfatizando o valor desses inestimáveis instrumentos para propagar a Mensagem do Evangelho.

A 18 de novembro de 1965, quando Paulo VI promulgava a Constituição Apostólica “Dei Verbum” sobre a divina Revelação, abriu novo e importante capítulo na vida da Igreja. Nesse Documento estavam postos os fundamentos para um profundo e eficaz retorno à Bíblia. Ela sempre ocupou um lugar de destaque em toda vida católica. Mas a partir do Vaticano II, alargaram-se novos horizontes, com efeitos benéficos em toda a atuação eclesial.

A Palavra de Deus escrita goza, na Igreja Católica, especialmente na Liturgia, catequese, ação pastoral de uma vivacidade que, nem sempre, é encontrada em outras denominações cristãs.

A dinâmica da renovação litúrgica não se exaure no texto do “Sacrossanto Concílio”.

E Maria ocupou, no Vaticano II, o lugar que merece, no coração da Obra de Cristo.

Esses comentários por ocasião do 50º aniversário da realização do último Concílio desejam estimular a leitura e o estudo dos 16 documentos que marcaram profundamente este milênio. O fato de ter havido, e ainda perduram, desvios, não justifica restrições ao Vaticano II. Ele é resultado de pessoas que não souberam ou não quiseram interpretá-lo à luz do Espírito Santo.

O “Legado do Concílio” é um grandioso movimento que marcou e ainda assinala hoje – e o fará no futuro - , a vida da Igreja de Cristo.



Rádio Catedral


  + Arcebispo Emérito
Dom Eugenio Sales
A alegria Pascal
Tempo de Graça
A Palavra do Senhor
João Paulo II
Catechesi Tradendae


VaticanoCELAMCNBBPUC-Rio
Legado do Concílio
26/01/2011
Cardeal Eugenio de Araujo Sales - Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de JaneiroA+a-ImprimirAdicione aos FavoritosRSSEnvie para um amigo
Há cinco décadas realizou-se o Concílio Ecumênico Vaticano II. Fica a interrogação: qual o seu legado? Suas diretrizes estão sendo postas em prática?

Em comentário anterior, buscamos ver o relacionamento Igreja-mundo. Hoje, os frutos, no interior da própria obra instituída por Cristo.

Sem modificar absolutamente nada do que constitui sua identidade – nem podia ser de outra forma! – foram introduzidas alterações de grande e benéfica repercussão na vida dos fiéis. Podemos comparar com um rejuvenescimento.

Antes, a Igreja se apresentava preponderantemente como uma sociedade de estrutura vertical. A partir das decisões do Vaticano II, sob as luzes do Espírito Santo, desencadeou-se um profundo e constante processo de comunhão e participação em todos os níveis da vida cristã. Perdura a estrutura existente, mas surgiu uma nova consciência: todo batizado efetivamente a força redentora de Jesus. Como diz São Paulo: “Completo em minha carne o que falta à Paixão do Cristo” (Cl 1,24).

A Constituição “Lumen Gentium”, fazendo eco a documentos mais antigos, nos lembra que todos os fiéis se integram no sacerdócio santificador de Cristo. Esta visão da realidade eclesial tem igualmente uma estrutura hierárquica. Por vontade do Fundador, cada cristão recebe parte do seu poder redentor, sem que a comunidade se transforme em massa amorfa, em aglomerado anônimo. Há um corpo orgânico que se assemelha a uma família bem constituída. A dignidade de cada filho, pequeno ou crescido, em nada enfraquece a autoridade específica dos pais. Pelo contrário, confirma-a, em sua plena dimensão. Na instituição fundada por Cristo, a atuação do leigo não diminui o insubstituível ofício do Pastor que, em nome do Senhor, é o guia de uma sociedade participativa. O Bispo exerce sua múmus, não por deputação dos fiéis mas em nome de Jesus que a outorga. Por isso, não se podem comparara o governante civil, os dirigentes políticos com a função dos Sucessores dos Apóstolos. O cristão deve ver nos Pastores o dom do amor redentor de Jesus a seu rebanho: “Quem vos ouve é a mim que ouve” (Lc 10,16) é “A quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,23).

Hoje são múltiplas as formas de trabalho dos leigos nas paróquias e dioceses. Sabem-se corresponsáveis não somente em atividades internas, como a catequese, mas também na ação junto ao mundo: atividade social, nos meios de comunicação, nos campos educacional e ecumênico. Antes do Concílio já existiam, mas com exceções ou em nível não-oficial. Hoje, é comum perceber esse novo procedimento. São membros ativos da missão confiada por Cristo aos Apóstolos. Das celebrações, todos tomam parte, embora em grau diverso; vários ministérios, de forma extraordinária, não são exclusivos dos ministros sacros; na elaboração do planejamento pastoral é ampla a cooperação.

A introdução da língua vernácula na Liturgia foi, sem dúvida, fator importante de maior integração entre os diferentes níveis que formam o Povo de Deus.

O Vaticano II trouxe uma preciosa modificação no relacionamento entre a Igreja Católica e as demais religiões. Recebeu valioso incentivo o ecumenismo e o diálogo inter-religioso, uma nova perspectiva em relação aos Judeus. Parte da preservação da identidade, para abrir-se aos que têm outras crenças. O resultado, embora lento, é indiscutível. Grandes problemas da Humanidade, como a busca da paz, hoje são abordados dentro de uma convivência cordial. O respeito mútuo permite o esforço sincero e leal em benefício dos povos. As reuniões ocorridas em Assis, promovidas pelo Santo Padre e com a presença de líderes religiosos os mais diversos, são a prova desse bom êxito do Concílio.

O reconhecimento amplo e claro da liberdade de consciência suprimiu áreas de estéril atrito. Reafirma o Concílio a verdade única, o dever de buscá-la com afinco, mas não agride a convicção dos demais filhos de Deus. Para nós, a Igreja Católica é a única fundada por Jesus Cristo, mas o Vaticano II proclama que há nas diversas confissões cristãs elementos verdadeiros da herança cristã (“Lumem Gentium”, nº 15) e naqueles que, sem culpa, não conhecem Jesus Cristo, existem “sementes do Verbo” de Deus (Decreto “Ad Gentes”, nº 11).

Os meios de comunicação social mereceram, com justiça, uma atenção especial. O documento “Inter Mirifica”, com as subsequentes Instruções “Communio et Progressio” e a mais recente, “Aetatis Novae”, revelam uma mudança de atitudes, enfatizando o valor desses inestimáveis instrumentos para propagar a Mensagem do Evangelho.

A 18 de novembro de 1965, quando Paulo VI promulgava a Constituição Apostólica “Dei Verbum” sobre a divina Revelação, abriu novo e importante capítulo na vida da Igreja. Nesse Documento estavam postos os fundamentos para um profundo e eficaz retorno à Bíblia. Ela sempre ocupou um lugar de destaque em toda vida católica. Mas a partir do Vaticano II, alargaram-se novos horizontes, com efeitos benéficos em toda a atuação eclesial.

A Palavra de Deus escrita goza, na Igreja Católica, especialmente na Liturgia, catequese, ação pastoral de uma vivacidade que, nem sempre, é encontrada em outras denominações cristãs.

A dinâmica da renovação litúrgica não se exaure no texto do “Sacrossanto Concílio”.

E Maria ocupou, no Vaticano II, o lugar que merece, no coração da Obra de Cristo.

Esses comentários por ocasião do 50º aniversário da realização do último Concílio desejam estimular a leitura e o estudo dos 16 documentos que marcaram profundamente este milênio. O fato de ter havido, e ainda perduram, desvios, não justifica restrições ao Vaticano II. Ele é resultado de pessoas que não souberam ou não quiseram interpretá-lo à luz do Espírito Santo.

O “Legado do Concílio” é um grandioso movimento que marcou e ainda assinala hoje – e o fará no futuro - , a vida da Igreja de Cristo.



Rádio Catedral


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segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Equipe Executiva do Conselho Missionário Nacional se reúne em Brasília


A sede das Pontifícias Obras Missionárias (POM), em Brasília (DF), acolheu nos dias 30 e 31 de agosto, mais uma reunião da Equipe Executiva do Conselho Missionário Nacional (COMINA). A pauta contemplou uma avaliação das principais atividades coordenadas pelos organismos envolvidos da animação e reflexão missionária.

Ao abrir a reunião, dom Sérgio Braschi, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB e do COMINA, citou o Documento de Aparecida: “A renovação das paróquias no início do terceiro milênio exige a reformulação de suas estruturas, para que seja um a rede de comunidades e grupos, capazes de se articular conseguindo que seus membros se sintam realmente discípulos e missionários de Jesus Cristo em comunhão” (172). Dom Sérgio justificou a escolha dessa citação ao anunciar o tema central da próxima Assembleia Geral da CNBB em 2013: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. Recordou ainda que o trabalho do COMINA deverá ajudar a não deixar de lado a dimensão missionária das paróquias.

O assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), padre Paulo Suess fez uma reflexão sobre a relação entre o Estado secular e as religiões. “Até onde o Estado pode intervir na religião?”, indagou o teólogo citando como exemplo a recente decisão do Tribunal Regional de Colônia na Alemanha de considerar crime de lesão corporal a circuncisão de menores. Ele se referia ao caso de um garoto muçulmano de quatro anos de idade que em 2010, fora submetido à uma intervenção cirúrgico-ritual de circuncisão. Diante da complexidade do tema padre Suess questionou: “Onde se situa a circuncisão: entre o direito à integridade física da criança e o dever dos pais de introduzi-la na cultura religiosa que lhe confere identidade, pertença, passado e futuro?” Na opinião do teólogo, “tais proibições não contribuiriam para salvar direitos individuais de crianças ou adolescentes, mas seria o início do fim da identidade do respectivo povo”. Para ele, “o Estado secular não só tolera as diferentes religiões, mas as reconhece como sujeitos coletivos de direitos humanos. Ele as necessita porque o mundo religioso mantém viva a consciência daquilo, que falta ao Estado secular”, concluiu.

Avaliação do 3º Congresso Missionário Nacional

O evento realizado em Palmas (TO) no mês de julho reuniu mais de 600 pessoas e foi avaliado positivamente. Padre Fábio Gleiser, da Arquidiocese de Palmas, secretário executivo do Congresso relatou a avaliação da equipe local. “Realizar um congresso desse porte em Palmas, diante das dificuldades, já foi muito positivo. Houve um entrosamento entre as 12 equipes de trabalho e a disponibilidades das 280 famílias na hospedagem dos participantes foi louvável”, destacou padre Fábio.

A maioria dos presentes achou que os problemas pontuais foram consideradas normais para um evento de grande porte. Para o diretor Nacional das POM, padre Camilo Pauleti, “o importante foi fazer uma reflexão sobre a missão da Igreja e a necessidade de intensificar a participação do Brasil na missão universal”.

JMJ - Rio 2013

Por ocasião da JMJ-Rio 2013, as Pontifícias Obras Missionárias de vários países do mundo promoverão uma Semana Missionária em São Gonçalo (RJ), no mesmo período em que se realiza a Semana Missionária em todas as dioceses do Brasil (dias 16 a 20 de julho 2013). Segundo padre Marcelo Gualberto Monteiro, secretário da Obra da Propagação da Fé e Juventude Missionária, o objetivo é reunir jovens que virão para a JMJ e desejam refletir sobre a Missão. No dia 23 de julho acontecerá o Encontro Internacional da Juventude Missionária. Durante a JMJ as POM terão sua sede Missionária na paróquia São Domingos em Niterói (RJ) e um espaço na Expo católica do Rio.

Missão na Amazônia e Povos Indígenas

Irmã Irene Lopes dos Santos, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia da CNBB falou sobre o Encontro realizado em julho para marcar os 40 anos do Documento de Santarém (PA). Relatou ainda, aspectos da viagem que fez a Macapá e ao Oiapoque, na fronteira com a Guiana. “Passando pelas comunidades da região percebe-se a realidade triste do tráfico de meninas para fins de exploração sexual, a prostituição, o consumo elevado de bebidas alcoólicas e drogas, inclusive em comunidades indígenas”, lamentou a religiosa. “Diante desses desafios, acredito muito na Igreja missionária da Amazônia”, disse Irmã Irene.

O representante do CIMI, Cleber Buzatto, informou sobre a situação dos Povos Indígenas em diversas regiões do Brasil, de maneira particular com relação à saúde e questões fundiárias. Explicou que Advocacia Geral da União (AGU) publicou uma orientação (Portaria 203), na qual pede que os advogados da União utilizem como parâmetro as atenuantes propostas no caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, para todas as Terras Indígenas no Brasil. “O que mais preocupa é a questão fundiária e especificamente alguns instrumentos que vem sendo usado nas diferentes instâncias do Estado (Congresso e Senado) para atacar os direitos dos povos indígenas”, afirmou Buzatto.

Solidariedade com o Haiti

A Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) foi representada pela irmã Antônia Mendes. Sobre o Projeto de Solidariedade com o Haiti, realizado numa parceria entre a CRB e a CNBB, com a ajuda da Cáritas brasileira, irmã Antônia comunicou o envio de mais uma religiosa. Trata-se da irmã Goreth Ribeiro dos Santos, missionária teresiana que em breve vai reforçar a equipe de seis religiosas atuando pelo Projeto naquele país. O trabalho contempla ação evangelizadora, humana e social. Irmã Antônia comunicou também a realização do “Fórum de atuação profético-missionário”, promovido pelas CRB e marcado para os dias 06 a 09 de setembro, em Belo Horizonte (MG).

Sob a coordenação da irmã Dirce Gomes da Silva, assessora da Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB e Secretária Executiva do COMINA, a Equipe tratou também de assuntos referentes à Missão Continental, cursos realizados no Centro Cultural Missionário (CCM), Seminário “Juventude e Missão”, site “Além-fronteiras” e publicação das memórias do 3º Congresso Missionário Nacional.

O COMINA é um organismo da Igreja católica no Brasil que tem como finalidade a animação, a formação, a organização e a cooperação missionária além-fronteiras das igrejas locais através de um serviço qualificado de assessoria, de coordenação e de projeto. É formado pelos bispos responsáveis e assessores da Dimensão Missionária da CNBB, pelo diretor e secretários das Pontifícias Obras Missionárias (POM) e do Centro Cultural Missionário (CCM), presidente da Conferências dos Religiosos do Brasil (CRB), do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Pastoral dos Brasileiros no Exterior (PBE), coordenadores dos Conselhos Missionários Regionais (COMIREs) e pelos representantes de institutos, organismos e imprensa missionária.

Fonte: CNBB

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Conversa, domingo 02 de setembro 2012

Através do meu irmão e amigo, o padre João Pubben, acabo de saber da passagem definitiva do Cardeal Carlo Maria Martini, que conheci como arcebispo de Milão no começo dos anos 90. Um homem excepcional. Uma vez, escreveram um livro coletivo sobre as pessoas que marcaram o século XX. Havia um capítulo dedicado ao papa João XXIII. Não me lembro o nome do autor, mas o título chamava a atenção: "João XXIII: finalmente, um cristão no Vaticano". Lembro-me desse título ao me recordar do cardeal Martini. Não que ele fosse um homem do Vaticano. Nunca foi. Jesuíta, era exegeta e dirigiu o Instituto Bíblico em Roma. De lá foi nomeado arcebispo de Milão e se tornou cardeal. Distinguiu-se por ser um humanista aberto e homem de diálogo. Em Milão, fundou uma cátedra sobre o diálogo da fé com os não crentes. E de fato manteve diálogo com vários filósofos e intelectuais importantes. Em   
Roma, não era muito estimado, nem pelo atual papa nem pelo anterior. Mas, sempre o respeitaram, por causa de sua profunda integridade e pela profundidade do seu pensamento. No ano 2000, propôs abertamente que o papa convocasse um novo concílio ecumênico para renovar a Igreja e inseri-la no século XXI. Depois, como percebeu que, em Roma, a cúria nunca aceitaria a sua proposta e se a acolhesse, a transformaria tanto que ela perderia seu objetivo, ele propôs não mais um concílio (que seria só de bispos e teria de ser convocado pelo papa), mas um fórum ecumênico mundial e que integrasse todos os que crêem. O tema seria o já proposto por um teólogo dos anos 40 (Bonhoeffer): "Paz, justiça e defesa da natureza". Creio que um dia, ao estudar nossa época, os historiadores do futuro mostrarão a importância que teve para a nossa Igreja a presença e a atuação de um homem como o Cardeal Martini. Que descanse em paz. E a sua herança profética permaneça viva e atuante. 

domingo, 2 de setembro de 2012


30/08/2012 Reflexão

A dimensão do profundo: o espírito e a espiritualidade

O ser humano não possui apenas exterioridade que é sua expressão corporal. Nem só interioriadade que é seu universo psíquico interior. Ele vem dotado também de profundidade que é sua dimensão espiritual.
O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É o ser humano inteiro que por sua consciência se percebe partencendo ao Todo e como porção integrante dele. Pelo espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos, pensamos e amamos. Podemos apreender o outro lado das coisas, o seu profundo. As coisas não são apenas ‘coisas’. O espírito capta nelas símbolos e metáforas de uma outra realidade, presente nelas mas que não está circunscrita a elas, pois as desborda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à outra dimensão a que chamamos de profundidade.
Assim, uma montanha não é apenas uma montanha. Pelo fato de ser montanha, transmite o sentido da majestade. O mar evoca a grandiosidade, o céu estrelado, a imensidão, os vincos profundos do rosto de um ancião, à dura luta da vida e os olhos brilhantes de uma criança, o mistério da vida.
É próprio do ser humano, portador de espírito, perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e ações. Com efeito, o que realmente conta para as pessoas, não são tanto as coisas que lhes acontecem mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes lhes proporcionaram.
Tudo que acontece carrega, e xistencialmente, um caráter simbólico, ou podemos dizer até sacramental. Já observava finamente Goethe:”tudo o que é passageiro não é senão um sinal”(Alles Vergÿngliche ist nur ein Zeichen”). É da natureza do sinal-sacramento tornar presente um sentido maior, transcendente, realizá-lo na pessoa e faze-lo objeto de experiência. Neste sentido, todo evento nos relembra aquilo que vivenciamos e nutre nossa profundidade, vale dizer, nossa espiritualidade.
É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que tem significado para nós. Pode ser a última camisa usada pelo pai que morreu de um enfarte fulminante com apenas 54 anos, o pente de madeira da avó querida que faleceu já há anos ou a folha seca dentro de um livro, enviada pelo namorado cheio de saudades. Estas coisas não são apenas objetos; são sacramentos que nos falam para o no sso profundo, nos lembram pessoas amadas ou acontecimentos significativos para nossas vidas.

O espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade, tão bem descrita pelo zenbudismo. “Você é o mundo, é o todo” dizem os Upanishads da Índia enquanto o guru aponta para o universo. Ou “Você é tudo” como muitos yogis dizem. O Reino de Deus (Malkuta d’Alaha ou ‘os Princípios Guias do Todo) estão dentro de vós” proclamou Jesus. Estas afirmações nos remetem a uma experiência viva ao invés de uma simples doutrina.
A experiência de base é que estamos ligados e religados (a raiz da palavra ‘religião’) uns aos outros e todos com a Fonte Originária. Um fio de energia, de vida e de sentido passa por todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia. Blaise Pascal que além de genial matemático era também místico, disse incisivamente; “é o coração que sente Deus, n ão a razão” (Pensées, frag. 277). Este tipo de experiência transfigura tudo. Tudo se torna permeado de veneração e unção.
As religiões vivem desta experiência espiritual. Elas são posteriores a ela. Articulam-na em doutrinas, ritos, celebrações e caminhos éticos e espirituais. Sua função primordial é criar e oferecer as condições necessárias para permitir a todas as pessoas e comunidades de mergulharem na realidade divina e atingir uma experiência pessoal do Espírito Criador. Infelizmente muitas delas se tornaram doentes de fundamentalismo e de doutrinalismo que dificultam a experiência espiritual.
Esta experiência, precisamente por ser experiência e não doutrina, irradia serenidade e profunda paz, acompanhada pela ausência do medo. Sentimo-nos amados, abraçados e acolhidos pelo Seio Divino. O que nos acontece, acontece no seu amor. Mesmo a morte não nos mete medo; é assumida como parte da vida, como o grand e momento alquímico da transformação que nos permite estar verdadeiramente no Todo, no coração de Deus. Precisamos passar pela morte para viver mais e melhor.
Leonardo Boff é autor de Espiritualidade: caminho de realização. Vozes 2003.
É dando que se recebe?
Estamos em tempos de montagem de governos. Há disputas por cargos e funções por parte de partidos e de políticos. Ocorrem sempre negociações, carregadas de interesses e de muita vaidade. Neste contexto, se ouve citar um tópico da inspiradora oração de São Francisco pela paz “é dando que se recebe” para justificar a permuta de favores e de apoios onde também rola muito dinheiro. É uma manipulação torpe do espírito generoso e desinteressado de São Francisco. Mas desprezemos estes desvios e vejamos seu sentido verdadeiro.
Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e esbanja perdulariamente acaba na pobreza.
Na economia dos bens espirituais, ao contrario, quanto mais dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer, quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais) mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.
Compreendemos este paradoxo se atentarmos para a estrutura de base do ser humano. Ele é um ser de relações ilimitadas. Quanto mais se relaciona, vale dizer, sai de si em direção do outro, do diferente, da natureza e até de Deus, quer dizer, quanto mais dá acolhida e amor mais se enriquece, mais se orna de valores, mais cresce e irradia como pessoa.
Portanto, é “dando que se recebe”. Muitas vezes se recebe muito mais do que se dá. Não é esta a experiência atestada por tantos e tantas que dão tempo, dedicação e bens na ajuda aos flagelados da hecatombe socioambiental ocorrida nas cidades serranas do Rio de Janeiro, no triste mês de fevereiro, quando centenas morreram e milhares ficaram desabrigados? Este “dar” desinteressado produz um efeito espiritual espantoso que é sentir-se mais humanizado e enriquecido. Torna-se gente de bem, tão necessária hoje.
Quando alguém de posses, dá de seus bens materiais dentro da lógica da economia dos bens espirituais para apoiar aos que tudo perderam e ajudá-los a refazer a vida e a casa, experimenta a satisfação interior de estar junto de quem precisa e pode testemunhar o que São Paulo dizia:”maior felicidade é dar que receber”(At 20,35). Esse que não é pobre, se sente espiritualmente rico.
Vigora, portanto, uma circulação entre o dar e o receber, uma verdadeira reciprocidade. Ela representa, num sentido maior, a própria lógica do universo como não se cansam de enfatizar biólogos e astrofísicos. Tudo, galáxias, estrelas, planetas, seres inorgânicos e orgânicos, até as partículas elementares, tudo se estrutura numa rede intrincadíssima de inter-retro-relações de todos com todos. Todos co-existem, inter-existem, se ajudam mutuamente, dão e recebem reciprocamente o que precisam para existir e co-evoluir dentro de um sutil equilíbrio dinâmico.
Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.
Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e bebendo do fruto de seu trabalho. Tem mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital material fica para trás.
O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual ”é dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades.
Leonardo Boff é autor de A oração de São Francisco, Vozes 2010.

thiago damato 
POEMA DE LIBERTAÇÃO

E trancado neste pequeno apartamento
Numa periférica cidade da América Latina
Eu ainda sinto o peso do colonialismo,
da escravidão, do ouro roubado de Minas,
do latifúndio consagrado.

Mas uma brisa leve balança as cortinas
E eu penso que esta mesma brisa secou lágrimas de Che,
Bolívar, Oscar Romero, Allende, Frei Tito de Alencar.
Então, raios de sol devassam o quarto, levando-me ao longe.
Sobrevoo as Cordilheiras, a Amazônia, o Canal do Panamá,
o Pacífico e o Atlântico.

De volta, hora de aterrissar.
Abro os olhos e fixo-me no Cristo crucificado
Guardando uma parede branca , velha e descascada.

E num lugar tão pequeno, num momento tão fugaz,
percebo algo grandioso, sublime:
A esperança dos menores é eterna!

Thiago Damato, poeta menor
Niterói/RJ, Brasil.
Inverno de 2012